Por uma estupidez lúcida
(mensagem recebida)
A
ver se a gente se entende, meu admirador sempre
ciumento
e zangado (e
com carradas de razão),
a ver se a gente se entende, seja, ontem dei comigo a exclamar com os meus olhos bugalhados de espanto: Santa Bárbara, padroeira dos aflitos, se o governo do meu Portugal se arma (o
melhor que pode e sabe) para pôr
na ordem (?) apenas cerca
de
800
(oitocentos) "motoristas
de matérias perigosas" que, através de um sindicato independente, fazem frente a uma poderosa associação de empresas, quer dizer que algo vai mui mal na concertação social, que algo vai muito
mal neste país na capacidade de dialogar e de negociar, neste país dito (com debrum oceânico) à beira mar plantado. Porém, desde logo, o governo devia ter em conta (1) quer o modelo (ilegal?) da forma de pagamento aos motoristas - ordenado base baixo e alcavalas diversas a troco de horas de trabalho a mais - (2) quer o abuso no recurso ao outsourcing por parte das empresas (3) quer a necessidade de pensar possíveis deduções (ou isenções) fiscais. Considere-se ainda que, assaz mal amanhado, digo
eu, está doente o reino da economia: alguns motoristas espirram e a economia
constipa-se (sem retorno e sem ágio) na
escassez de
combustível. Diz-me que este tipo de sindicato é um estrutural fenómeno novo na fraca política portuguesa cristalizada? Óbvio, cedo e concedo. Mas convenço-me, vida grácil, que, neste
país do vale tudo, quando a alguns lhes dá para asnear, berram,
arranham-se, insultam-se…, uns sacanas, salvo seja. Penso que até já por aí deambulam uns manhosos maduros - crentes
em bons agoiros - a
preparar um próximo e lauto bródio eleitoral.
Pergunta-me
se
tudo isto é um atentado à inteligência e à consciência e
à paciência?
Então não, que novidade nenhuma! Bem, muito bem fez o Presidente da República em abalar de férias (formais tão só),
abandonando o palácio que lhe serve de assento profissional, lar e
serralho: não viesse a dar-se o caso (e também o acaso e a necessidade), suspicácia
minha,
de ele ter de
comentar
comentários canhestros em
palestras combinadas,
adiante.
Adiante,
que
quero
falar-lhe de um livrito maneirinho que hoje
(dia dos canhotos)
me caiu em cima, “O Cosmo da Mente”. Bah, logo que vi a capa, foi
tiro e queda, disparei com azedume: o desenho é meu, céus,
curta vida aos rapinadores do meu ubérrimo caderninho preto argolado, que sina a minha!
Página
após página, tudo foi ficando pior, seja, não só me rapinaram o
desenho para a capa do livrito, também me surripiaram as minhas intuições, os meus saberes e as minhas premonições acertadas.
Lembra-se de, em tempo não longe, lhe ter falado do mesmo (similar) tema (aqui e aqui)? Já conhece este livro do filósofo Thomas Nagel? Nossa Senhora de Fátima (hoje é dia 13) me acuda, se há dias em que a minha franja egípcia me foge, hoje é
um deles. Amanhã passado lhe direi algo mais, ainda
nem descorei da
raiva assanhada que
me assaltou perante o rapinanço do meu caderninho argolado e perante a ausência de opiniões inteligentes e sábias sobre a desfaçatez maldosa do aproveitamento da greve dos "motoristas de matérias perigosas"? Porquê?
Ora essa, homessa, porquê? Multiversos, não se vê imediatamente que um dos grandes
problemas do tempo actual é que a “intelligentsia” - uma palavra
russa que designa a classe social formada pelas pessoas melhor
preparadas intelectualmente - está muito fatigada e
está demasiado farta de alguns medíocres sem arcaboiço?
Adivinho-lhe uma pungência destemperada: "a intelligentsia" (conheço na pele o que escrevo, eu que tenho anos de tarimba literária) está
fatigada, está farta
de medíocres encartados; e,
num
exercício de estupidez lúcida, só tem duas hipóteses perante as
alarvidades
dos
detentores do Poder: falar e discutir com com
pessoas amigas ou tornar-se frívola e fazer de conta, sem
gemebundices fazer-se de idiota lúcida.
Como
diz? Não!
Pode lá ser! Depois de todas estas minhas preocupações apenas quer
saber o que é um bródio eleitoral? Vida
minha, raios e coriscos,
não
lhe tenho
digo eu, bastas, um ror de vezes, que quem não sabe deve procurar? Tem então
bom remédio, lhe sugiro eu com a tinta acesa nas minhas palavras escritas: deixe-se de escrevedoiros, pesquise com afinco, encontrará de certeza, aposto singelo contra dobrado. No fundo, escrevo eu que sei do que falo, eu que raramente me engano: é muito mais entusiasmente descobrir do que saber, que lhe parece? Ah, nunca se esqueça que os pensamentos, as ideias e as teorias pertencem ao mundo natural, pertencem ao mesmíssimo mundo natural a que pertence a espantosa neutrina matéria de que eu, as estrelas e os planetas somos feitos. Uhm, está surpreendido?! Que surpresa minha nenhuma!
Adenda 1
Se continuo linda, límpida e jovial? Óbvio que sim, não dou tréguas à beleza cósmica; e, dia sim dia sim, a volúpia do estio acorda como música nos meus sentidos, que quer, sou assim (rimou, ups), assim de nascença e de aprendizagem, que se há-de fazer!
Adenda 2
Que quer, sou assim, nada a fazer. Reli a minha mensagem (minha de mim só para si e para o mundo inteiro) e, não é para me gabar, apetece-me dizer: belíssimo comentário e belíssima revelação de um desenho/tesouro que parece ser mesmo meu. Acertei mais uma vez, bingo, assim: os inteligentes já não têm paciência para os tempos que vivemos e têm um pouco de receio de serem perseguidos e/ou prejudicados. Afinal de contas, pois, as contas, os inteligentes também têm de ganhar vida, entende? Não é cobardia, é sensatez, esperando pelo momento oportuno. A expressão "intelligentsia idiota lúcida" é fabulástica, é pois não é? Adiante, ainda lhe queria dizer que para além de linda, límpida e jovial me mantenho gata, digo, gaiata. Mais ainda uma informação de rodapé: (pelo sim e pelo não) fui ao dicionário de português do Torrinha à procura do bródio e, Nossa Senhora do Caldo Entornado, o bródio também pode ser um caldo de sobras de pão. Assim sendo, registe e memorize: o bródio eleitoral é uma pândega ou um festim pelo qual de distribuem em saraus partidários (para além dos tachos...) os nacos (com atavios) pelos indigentes de poder (vulgo "lambe-botas"...). Ainda, céus, me pergunto: como é que alguns políticos inteligentes se deixam embarrilar por parolos esfaimados? Adiante. Bródio é uma palavra supimpa, sábia para desmascarar mentiras escondidas, sábia como sopa no mel, é, pois não é? Gosto, gosto e gosto!
Adenda 3
Vida minha que é berço do pensamento imanente que em mim nasce livre, meu admirador atarantado, tropecei e caí, digo, estatelei-me ao comprido nos três textos acima (a mensagem de hoje e as suas duas adendas), estatelei-me quando os li em conjunto. Pois... Concluí que ler em conjunto não significa simplificar e homogeneizar; pelo contrário, tal conjugação implica que cada texto (uma mensagem e duas adendas, neste caso) constitua para o outro um correctivo e um obstáculo, e concluí que só através desta complicação suplementar eles poderão alcançar o que procuravam. Assim sendo, tudo se resume a um brilhante comentário de fada: corrosivo até mais não..., o Senhor Deus nos acuda! Mas, agora, ainda lhe pergunto: quando os médicos fizerem greve também vai haver requisição civil a 100% e será que serão ameaçados com pena de prisão por crime de desobediência...? Jesus! Porque é que eu sou assim?
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