O Ser de uma imagem é uma ou duas ou três realidades?
O
sensível,
o sensível é o Ser de
uma imagem, o sensível não é, não pode ser uma coisa simplesmente
física: se fosse, seria mais que suficiente fechar os olhos para ver e
observar o mundo. Pois sim, a existência do sensível não coincide com o real, dado que a realidade e o mundo não são sensíveis, ela e ele devem devir. Disse Aristóteles no "De anima" que: "se colocarmos o objecto colorido sobre o próprio órgão da visão, não será possível vê-lo". Pensando assim, se torna essencial que o objecto se transforme em fenómeno e que o fenómeno encontre os órgãos perceptivos para que a experiência se faça e o conhecimento aconteça. Considere-se... (1) A água foi e continua a ser o primeiro espelho. (2) E o espelho forneceu durante séculos a experiência fundamental de toda a teoria do conhecimento. (3) Tal experiência fundamental não aconteceu porque um espelho reproduza o desdobramento narcísico da cosnciência entre o eu-sujeito e o eu-objecto. (4) Antes tem a ver com o facto de que, no espelho, o sujeito não se torna objecto de si mesmo, mas se transforma numa coisa de puramente sensível, alguma coisa cuja única propriedade é a de ser sensível, sem corpo e sem consciência. Assim sendo (1,2,3,4), no espelho nos tornamos em alguma coisa que não conhece e não vê, mas que é perfeitamente sensível. Ao espelho, no espelho, longe de encontrar o cerne da percepção, gozamos um momento único: o devir do sensível sem carne e sem pensamento, o devir do ser puro do percepto. Seja. De um lado, há um sujeito que se vê e é visto (que é corpo e alma); e, de outro lado, há um nós, tanto simples visibilidade em acto quanto puro ser do sensível: é desta forma que no espelho a imagem, o sensível, se dá a conhecer. O que se passa quando nos olhamos ao espelho? Perante o espelho, está-se diante da própria visibilidade, da própria imagem, diante de si mesmo como ser puramente sensível, mas essa imagem existe em outro lugar que não o lugar onde se encontra o sujeito que conhece e o objecto do qual ele é a visibilidade. A imagem de nós torna-se capaz de viver para além de nós, a olhar para e por nós, o ser da imagem é o ser das nossas formas: a imagem é a exterioridade absoluta de uma coisa a si mesma. Pergunta que sobra: o Ser de uma imagem é uma ou duas ou três realidades?
Adenda (mensagem recebida)
Senhor Deus, Vida Minha, perdi-me em mim, meu admirador ciumento, perdi-me em mim ao ler este seu texto de hoje (filosófico, metafísico, ontológico e mais ainda, vida!), céus! Será que isto traduz direitinho o seu pensamento especular (e especulativo) de hoje? Creio que sim, aposto! Mais: acredito que (intuições e crenças minhas!) o cérebro é o espelho do corpo.
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