Como diabo podem os pássaros conhecer a Joana Vasconcelos?

(mensagem recebida)

Deus santo, esta coisa das imagens, meu admirador incondicional, dá comigo a acicatar a imaginação e o pensamento. Demore-se na composição de duas imagens que lhe envio: à esquerda (no bosque de Oma, se não sabe onde fica, tem bom remédio: pesquise) as cores garridas agarraram-se às arvores através da imaginação de uns pintores; à direita, os pássaros levaram as cores para as árvores. De qual das duas imagens eu gosto mais? Sei eu lá bem! O que sei, isso sei, é que, pelo menos numa delas, dois pássaros estão tão intrigados quanto eu, mais que eu. Coisa estranha, oiço nítidamente um deles a palrar: os humanos coitaditos nem têm penas com cores lindas e nem voam, raça estranha a deles neste planeta, pensam que nos enganam quando pintam asas de borboletas nas árvores: será que são  mesmo asas de borboletas? Há bem pior que essa ideia, retorquiu o pássaro mandão vermelho, querem vocês acreditar que uma tal de Joana de Vasconcelos fugiu dos campos da Natureza (uns preparados, outros de pousio), onde a química silenciosa e cíclica se diverte em plantas, troncos, folhagem, raízes e cascas de árvores, querem acreditar que ela utiliza as cores em instalações artísticas em que tudo é artificial? Será que ela também não conhece os campos de trevo e de trigo, a erva dos milheirais e o cheiro dos pomares? Ainda as palavras do pássaro ecoavam, e... Passei-me, meu admirador, sério, como posso eu ter ouvido os pássaros a falar na imagem? Sabe? Diz-me que é porque uma imagem é do domínio do sensível e a sensibilidade é a minha principal característica, aquela que me permite aceder à coesão do tudo, que me permite a mim que, tímida e feminina, acedo a tudo o que se liberta e ilumina? Gosto, gosto e gosto! Curiosa, lhe pergunto ainda: céus, como diabo podem os pássaros conhecer essa Joana Vasconcelos? Não sabe! Nem eu.

Adenda

Dormi, meu caro, em cima das minhas dúvidas e da pergunta que lhe fiz, e fui ouvir o Carl Safina sobre o que os animais pensam e sentem. Faça como eu, vai ver que vale a pena, ponto.