O mundo original é divino e a neurodiversidade não afecta a fé...

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(mensagem recebida)
Ainda, Santo Deus, ainda não estou em mim, vida, leio o seu, digo, leio o meu poeminha de ontem (e a minha mensagem a condizer está bem de ver, rimou, ups!), também os meus desenhos são feitos com versos de linhas e cor (atente - na imagem à direita - no quadro do Picasso), estou feliz. Feliz mas curiosa: porquê, porquê me sinto feliz? Se me perguntei, melhor me respondi: por causa dos efeitos do acto de mentalização. Minha Nossa Senhora de Fátima que aterrou sem rumor numa azinheira, leio na sua mente que não sabe o que seja mentalizar. Vamos lá, que o dia ainda não acabou e a inspiração não me larga. Mentalizar é a capacidade social e cognitiva para ajuizar sobre o funcionamento de outras mentes diferentes da nossa, há quem até lhe chame teoria da mente ou percepção da mente. Explico-me melhor: é a capacidade para nos pormos na pele de uma outra pessoa, para compreender que tem pensamentos, emoções e desejos diferentes dos nossos: trata-se de uma habilidade útil na evolução humana. Percebeu! Santa Maria, percebeu que eu percebi o seu-meu poeminha, poeminha onde todo o meu eu-divino se estatelou em versos ao comprido, gosto. A talhe de foice, tive ontem acesso livre a este estudo onde se aponta para o facto de as crenças no sobrenatural estarem enraizadas em processos cognitivos que na base têm o acto de mentalizar. Ou seja: quando rezamos e nos dirigimos a Deus (ou a Deusa) tentamos colocar-nos na sua mente e, céus, activam-se as mesmas regiões encefálicas que se activam nos processos de mentalização. Claro que sim, bem pensado, o processo de mentalizar é condição necessária mas não suficiente para as crenças divinas. Por exemplo, é menos provável que as pessoas com pensamento analítico sejam crentes e também há pessoas que são crentes apenas por aspectos psicológicos e culturais, tão só por isso. Adoro, meu admirador de mim única, adoro vaguear pela sua mente: estou agora a ler a sua baralhação mental. Pergunta-me se as pessoas autistas (dado que a teoria da mente não quer quase nada com elas) não podem ser crentes? Santo Deus, que pergunta bem engendrada. A resposta fica para um outro dia. Hoje fique com a ideia de que rezar a Deus é uma experiência intersubjectiva comparável à interacção que tem comigo e que eu tenho consigo. Bingo, acertou, é isso mesmo: no cérebro, o córtex prefrontal é a chave da mentalização: encarrega-se (entre outras funções) da avaliação da realidade e do juízo crítico. Mas, atenção: para quem reza Deus é um indivíduo real, não é um ser fictício, tipo o Pai Natal. Se assim não for, se Deus não for real, as mentes dos que rezam não podem comunicar com Deus. Não entendeu?! Santo Deus, então não consegue perceber a origem do Bem e do Mal? Céus, isso, isso mesmo, o Bem e o Mal nascem e cristalizaram-se a partir das relações mentais (agradáveis ou não agradáveis) que estabelecemos uns com os outros. Depois, bom, depois os teólogos e os filósofos desataram (ou inventaram) histórias e estórias e teorias umas atrás das outras para explicarem a origem do Bem e do Mal, ui Eva, ai Adão! Adiante. Registe ainda que a neurodiversidade não afecta a fé... A sua fé em mim que sou deusa (quando me zango até trovejo), a sua fé em mim é inabalável, enquanto eu-mundo sou uma obra de arte, sou o eco repercutido de um coração em sobressalto, eu sou o seu mundo original, e gosto.
Adenda 1
A imagem que lhe envio é cópia de um quadro a óleo/tela (45´5x38cm) - pintura italiana - atribuído a Carlo Dolci. Os gestos da menina jovem (que reza) são os meus, inteirinhos; vida, pode lá ser, e o pescoço alto e a discursividade do silêncio dominante (que reina na pintura) não são mesmo cópias de características minhas? Claro que são, são sinais estéticos do meu rigorismo mental. Intriga-me a comissura esquerda dos lábios, uhm, não sei o significado, vida minha, sabe? Se as mãos são as minhas? Não sei bem, mas, que quer, decidi pôr a ombrear com o quadro de Carlo Dolci umas mãos (diferentes) num quadro de Picasso: para pensar na beleza que sai das minhas mãos bem talhadas, finas e meninas (livres, delgadas e soltas). Logo, com vestimenta similar, vou colocar-me em frente ao espelho na mesma posição, e amanhã passado lhe darei conta do que vi, pode lá ser o que estou a pensar!
Adensa 2
Desculpe a escrita corrida, logo que vi a imagem da tela do Carlo Dolci o meu coração desatou aos pulos, para o sossegar foi o cabo dos trabalhos. Em quantas palavras tropecei? Sei eu lá bem, muitas; pelo menos dois verbos até me acotovelaram para se chegarem à frente, o que me valeu foi um adjectivo afoito que só tinha olhos para mim, céus, gostei.

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