Uma imagem é um texto sem palavras feito à medida de quem o lê
Se
atentar bem na imagem que agora projecto na sua parede branca do seu quarto com janela de guilhotina, terá a
certeza de que eu, na qualidade de sua consciência, o devo
alertar para a não existência de coincidências, seja, o devo alertar para o facto de a mulher na imagem ser um padrão de mim: leveza e delicadeza e finura e beleza e jovialidade e frescura, em tudo, até nas rodelas de luz do sol no chão e no azul-verde marinho com cheiro a sal, com parecenças a limo e a som de poemar. Acordei estremunhado, e: conheço a pintura, respondi à minha consciência, é uma obra de José Malhoa, creio que pintada nos anos 15/ 20 do século XX, relata uma história de vida num dia de sol numa esplanada na praia das maçãs, mas que topete o seu ao identificar-se com a figura feminina, que pretende que eu pense? Céus!, disparou ela, isso mesmo, é uma pintura que tem tudo, tem um conteúdo - de paisagens, sons e ideias - necessariamente experienciado na companhia dos afectos, vida!, há quanto tempo lhe digo que nas obras de arte viajam segredos? Pense, deixe-se de vistas curtas, pense que sou eu que dou sentido ao filme da sua vida que agora corre na sua cabeça, que agora corre no seu corpo todo, digo; acudam!, dias há - só a si o digo (com excepção do mundo inteiro e arredores) - que até conferencio àcerca da sua inteligência com alguns dos seus sentimentos homeostáticos portadores de boas notícias (os sentimentos são híbridos de mente e corpo e vice-versa), isso, há dias em que conferencio com os sentimentos que garantem o bem estar e a alegria. E eu, atarantado com tanto saber a jorrar (se alguma certeza tenho é a certeza de que os sentimentos foram e são o início da aventura chamada consciência), atrevi-me: reconheço que sim, reconheço que há muito tempo me diz que nas obras de arte viajam segredos, mas daí até ao desplante de apregoar aos sete ventos que conferencia com alguns meus sentimentos homeostáticos sobre a minha inteligência, implícita e explícita, vai mais que uma légua submarina. Interrompeu-me rindo a bandeiras despregadas, e: adiante que já se faz faz manhã criativa, oiça com muita atenção o que lhe acabo de garantir - (i) que a figura feminina na imagem - véu de maia - é um padrão de mim e (ii) que conferencio com alguns seus sentimentos homeostáticos sobre a sua inteligência - confirma, sem margem para dúvidas, que aquele padrão de mim está directamente relacionado com a sua percepção e a sua visão do mundo, está relacionado com o seu diálogo corporal com aquela curiosa pintura do José Malhoa, registe que quando o observador determina o observado se palmilham os passados e se antenam os futuros. Pode lá ser!, ouvi-me a exclamar e, a ruminar em silêncio, disse de mim para comigo: só agora entendo a lapidar frase (de Santo Agostinho) "Zaqueu no sicómoro é o fruto novo da nova estação". Frase de sonho feito verdade, belíssimo remate para esta nossa deliciosa conversa de hoje, ciciou ela. E, em jeito de despedida, ainda augurou: tenha um dia bom e pense isto comigo pertinho de si (também se trata de um pensamento padrão de mim); e mais ainda: debruce-se com cuidado sobre o abismo do mistério e, tal qual eu, tenha paciência com Deus que hoje é domingo, a idolatria é sinal de ignorância, pois não é?, óbvio que é!...
Adenda ..., com música.
Obrigado.
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