A Covid-19 é uma pandemia que estava mais que prevista, vida!
Nós sofremos na medida em que somos uma parte da natureza, a qual não pode ser por si sem as outras - Espinosa
1
Está
instalada - mundialmente - uma pandemia, está instalada mais uma pandemia na longa
História da Humanidade, a Covid-19. Casa arrombada, trancas à
porta, diz um ditado português, que parece estar muito actualizado... Vejamos.
2
Em
Setembro de 2019, as Nações Unidas e o Banco Mundial produziram um
relatório que alertava para o risco de uma pandemia que para além
de matar muitos seres humanos também destruiria as actuais economias
e provocaria caos social. Trata-se
de um relatório que convidava os diversos governos a preparar-se
para o pior: “para uma epidemia planetária de uma gripe -
especialmente mortífera – e que seria transmitida por via
respiratória”. Mais, dizia-se que aquilo que desencadearia essa
gripe “tanto podia originar-se de forma natural como poderia ser
concebido e criado em laboratório com o objectivo de produzir uma
arma biológica”: o mundo estava perante uma ameaça certa,
os Estados e as Instituições Internacionais deveriam tomar medidas a tempo.
3
Uma
dos responsáveis pelo relatório – Gro Harlem Brundtland –, que
foi primeira ministra da Noruega e directora da Organização Mundial
de Saúde, chamou a atenção para a possibilidade de uma enfermidade
em larga escala ser uma perspectiva tão alarmante quanto realista, que poderia levar o mundo algo equivalente - neste século XXI - ao
que aconteceu com a denominada “gripe espanhola” de 1918, gripe que
matou cerca de 50 milhões de pessoas. Denunciou também que
nenhum governo estava preparado para tal cenário e que nenhum
governo tinha implementado um “Regulamento Sanitário
Internacional” tendo em vista um tal cenário pandémico.
4
Ainda
se pode confirmar que, em 24 de Fevereiro de 2020, a
Organização Mundial de Saúde alertou para a probabilidade de o mundo
se encontrar perante uma pandemia. E, em sequência, se nalguns países se tomaram
medidas, noutros países, de forma descontraída, a vida continuou normalmente: como se
nada estivesse ou viesse a acontecer, com excepção da Alemanha que se organizou logisticamente (laboratórios de investigação incluídos) para o que desse e viesse.
Não é agora o tempo certo para abrir uma discussão à volta do que poderia ou não poderia ter sido feito mais cedo, muito mais cedo. Em contrapartida, é o tempo em que os cidadãos - cumprindo rigorosamente as medidas de confinamento – se devem informar (e serem informados) sobre se o seu sofrimento generalizado (e os seus efeitos devastadores na vida pessoal, familiar e social) tem direito a uma reparação legal e se houve negligência culpável. Realce-se que a União Europeia, a título de exemplo, deveria ter adoptado medidas homogéneas para o conjunto dos seus membros e não fez. Porquê? Talvez porque nenhum dos seus membros tivesse dado o devido valor ao relatório das Nações Unidas e do Banco Mundial e, por isso, a tempo e com tempo, não tivesse (ou não quisesse ter) alertado para o assunto. Um dia se saberá!
7
Dure muitas semanas ou vários meses a "batalha" contra a Covid-19, que acabará em vitória contra o vírus, não só terá um preço muitíssimo elevado em vidas humanas quanto criará uma convulsão de ordem social e económica de magnitude difícil de conceber no que toca especialmente à saúde física e mental de cada indivíduo. Registe-se que a médio prazo: haverá um novo poder planetário de que a China será o principal protagonista liderando uma nova ordem mundial cujo epicentro se situa na Ásia (não será por mero acaso que os grandes triunfadores frente à Covid-19 sejam a Coreia do Sul, Singapura e o Japão); estabelecer-se-à um novo "contrato social" que já começou a desenhar-se graças à utilização massiva da digitalização durante o confinamento, já visível em iniciativas criativas desenvolvidas por "startups"; esta nova "ordem mundial" irá colocar desafios severos sobre o futuro quer da democracia quer do capitalismo quer do significado e exercício dos direitos humanos (direitos humanos já tão proclamados quanto hostilizados). Assim sendo, digam e façam os populistas o que quiserem e lhes der na real gana, mas o tempo em que vivemos é o tempo dos filósofos, é tempo dos filósofos porque é preciso perguntar e pensar. Pensar é algo que tem andado arredado de uma sociedade do imediato, uma sociedade humana com muita tecnologia e muito conhecimento (a ciência é uma atitude perante o mundo, não mais que isso), mas também uma sociedade humana com desigualdades gritantes. Se algo já é bem visível, durante esta pandemia, é que só há uma Humanidade: por isso, necessário (e urgente) é que se formem novos líderes e que as novas gerações saibam tirar partido das novas oportunidades que uma crise desta envergadura sempre gera.
Adenda 1
Um nome a reter, Luigi Ferrajoli: aqui.
Adenda 2
E Deus, o Deus das religiões por onde anda? E o planeta Terra, é um organismo vivo? Quanto a Deus: Deus não é o génio de uma lâmpada que aparece para satisfazer desejos, quem tem fé e acredita, vai continuar a ter fé e a acreditar, irá continuar a ter fé e acreditar na importância e no valor da vida em comunidade, continuará ver Deus no Outro ("viste-me com fome e deste-me de comer; viste-me com sede e deste-me de beber, viste-me nu e deste-me de vestir..."): quem vive o mistério do sentido da vida é mais resiliente e mais solidário. Quanto ao planeta Terra: há que ter presente que a vida funciona como um único organismo que define e conserva as condições necessárias à sua sobrevivência, sabendo-se que no estado estacionário do nosso planeta os seres humanos se devem incluir como partes, ou parceiros, de uma entidade democrática.
Adenda 3
Pergunta que sobra: estarão os seres humanos programados para reconhecer instintivamente a sua função óptima em relação a outras formas de vida que os rodeiam? Agir segundo este instinto implica ser recompensado ao descobrir que o que se afigura certo parece ser também bom e provoca sensações agradáveis que abrangem o sentido de beleza. Ao invés, quando o relacionamento com o meio se deteriora, é-se afectado por uma sensação de vazio e de privação e de carência. (Vou ouvir...).
Adenda 4
Com memória e música (sobre esta obra admirável escreveu Maynard Solomon: "aqui (no primeiro andamento, o Adagio), Mozart simula o próprio processo da criação, mostrando-nos os elementos do caos e a sua conversão em forma (...) a transição da escuridão para a luz, do mundo subterrâneo para a superfície (...) e agora, no Allegro, o tema emerge, elevando-se, já liberto, transcendido o medo da aniquilação"; pode assim constatar-se que a harmonia é total)
5
Óbvio! Alguns discursos inflamados de muitos políticos, que - aos sete ventos – garantem não ter sido possível imaginar a pandemia com que o mundo se confronta, não correspondem à verdade, mais não são que lágrimas de crocodilo, são desculpas de mau pagador. Sem dúvida! No mínimo, houve negligência dos responsáveis políticos pelos serviços de saúde, e esta negligência está à vista: os serviços de saúde (públicos, privados e de iniciativa social) reagiram tarde, reagiram tarde e mal: faltava quase tudo. Justo é que se diga e que se realce, no entanto, a espantosa capacidade dos serviços de saúde (com destaque especial para os profissionais) em reagir à adversidade, um sinal positivo de que estão vivos e que são uma esperança para o futuro.
6Não é agora o tempo certo para abrir uma discussão à volta do que poderia ou não poderia ter sido feito mais cedo, muito mais cedo. Em contrapartida, é o tempo em que os cidadãos - cumprindo rigorosamente as medidas de confinamento – se devem informar (e serem informados) sobre se o seu sofrimento generalizado (e os seus efeitos devastadores na vida pessoal, familiar e social) tem direito a uma reparação legal e se houve negligência culpável. Realce-se que a União Europeia, a título de exemplo, deveria ter adoptado medidas homogéneas para o conjunto dos seus membros e não fez. Porquê? Talvez porque nenhum dos seus membros tivesse dado o devido valor ao relatório das Nações Unidas e do Banco Mundial e, por isso, a tempo e com tempo, não tivesse (ou não quisesse ter) alertado para o assunto. Um dia se saberá!
7
Dure muitas semanas ou vários meses a "batalha" contra a Covid-19, que acabará em vitória contra o vírus, não só terá um preço muitíssimo elevado em vidas humanas quanto criará uma convulsão de ordem social e económica de magnitude difícil de conceber no que toca especialmente à saúde física e mental de cada indivíduo. Registe-se que a médio prazo: haverá um novo poder planetário de que a China será o principal protagonista liderando uma nova ordem mundial cujo epicentro se situa na Ásia (não será por mero acaso que os grandes triunfadores frente à Covid-19 sejam a Coreia do Sul, Singapura e o Japão); estabelecer-se-à um novo "contrato social" que já começou a desenhar-se graças à utilização massiva da digitalização durante o confinamento, já visível em iniciativas criativas desenvolvidas por "startups"; esta nova "ordem mundial" irá colocar desafios severos sobre o futuro quer da democracia quer do capitalismo quer do significado e exercício dos direitos humanos (direitos humanos já tão proclamados quanto hostilizados). Assim sendo, digam e façam os populistas o que quiserem e lhes der na real gana, mas o tempo em que vivemos é o tempo dos filósofos, é tempo dos filósofos porque é preciso perguntar e pensar. Pensar é algo que tem andado arredado de uma sociedade do imediato, uma sociedade humana com muita tecnologia e muito conhecimento (a ciência é uma atitude perante o mundo, não mais que isso), mas também uma sociedade humana com desigualdades gritantes. Se algo já é bem visível, durante esta pandemia, é que só há uma Humanidade: por isso, necessário (e urgente) é que se formem novos líderes e que as novas gerações saibam tirar partido das novas oportunidades que uma crise desta envergadura sempre gera.
Adenda 1
Um nome a reter, Luigi Ferrajoli: aqui.
Adenda 2
E Deus, o Deus das religiões por onde anda? E o planeta Terra, é um organismo vivo? Quanto a Deus: Deus não é o génio de uma lâmpada que aparece para satisfazer desejos, quem tem fé e acredita, vai continuar a ter fé e a acreditar, irá continuar a ter fé e acreditar na importância e no valor da vida em comunidade, continuará ver Deus no Outro ("viste-me com fome e deste-me de comer; viste-me com sede e deste-me de beber, viste-me nu e deste-me de vestir..."): quem vive o mistério do sentido da vida é mais resiliente e mais solidário. Quanto ao planeta Terra: há que ter presente que a vida funciona como um único organismo que define e conserva as condições necessárias à sua sobrevivência, sabendo-se que no estado estacionário do nosso planeta os seres humanos se devem incluir como partes, ou parceiros, de uma entidade democrática.
Adenda 3
Pergunta que sobra: estarão os seres humanos programados para reconhecer instintivamente a sua função óptima em relação a outras formas de vida que os rodeiam? Agir segundo este instinto implica ser recompensado ao descobrir que o que se afigura certo parece ser também bom e provoca sensações agradáveis que abrangem o sentido de beleza. Ao invés, quando o relacionamento com o meio se deteriora, é-se afectado por uma sensação de vazio e de privação e de carência. (Vou ouvir...).
Adenda 4
Com memória e música (sobre esta obra admirável escreveu Maynard Solomon: "aqui (no primeiro andamento, o Adagio), Mozart simula o próprio processo da criação, mostrando-nos os elementos do caos e a sua conversão em forma (...) a transição da escuridão para a luz, do mundo subterrâneo para a superfície (...) e agora, no Allegro, o tema emerge, elevando-se, já liberto, transcendido o medo da aniquilação"; pode assim constatar-se que a harmonia é total)
Comentários
Enviar um comentário