A criatividade humana: processo criativo ou fenómeno emergente?

criatividade
criatividade humana:
é um fenómeno emergente, ou depende de um processo criativo prévio que a torna possível?
Tema e pergunta assaz interessantes, soprou-me uma voz que bem conheço, a questão da criatividade humana, especialmente a criatividade em progresso ou aceleração, pode ser pensada (e imaginada) cosmológica ou antropológicamente. Como diz, ouvi bem? Interrompi com curiosidade de saber. Ouviu, digo que se deve perguntar se o cosmos já exibia criatividade antes do aparecimento do dito “homo sapiens”, e olhe que, aposto singelo contra dobrado, não será tempo perdido meditar no tema e tentar responder à pergunta, pense  primeiro em plantas e rosas e depois arrisque. Já agora, atrevi-me eu sem rodeios, porquê não perguntar também se a criatividade humana se encontra ligada de modo essencial à criatividade divina? Saiu-me este melhor que a encomenda, suspirou ela (uma voz a suspirar, hum!), claro que sim, martelou as palavras, claro que sim, devemos tentar saber, mais que não seja para trazer Deus para a nossa vida quotidiana, Deus faz coisas novas e nós humanos (feitos à imagem de Deus) podemos imitar e ajudar Deus a produzir um futuro (céus, tal qual uma criança!), a criar um futuro que vá mais além dos potenciais do passado (a talhe de foice: sabe por acaso o que são potenciais evocados?). Isso é muita areia para a minha camioneta, respondi-lhe, perto de si quase não sei nada, muito menos saberei entender uma interação com um Deus criativo, a menos que, digo eu, a vida seja um livro que Ele escreveu e que nós lemos todos os dias. Isso, isso mesmo, interessante metáfora, interrompeu-me, a vida entendida como um livro que se desfolha diariamente, gosto, enquanto estamos acordados lemos o livro da vida a abarrotar de vitualhas de saber (capítulo a capítulo, página a página, imagem a imagem) com as ferramentas da percepções, das emoções, dos sentimentos e do conhecimento: e, quando dormimos (bingo!), através dos sonhos só lemos partes do livro ao calhas (acorda, Freud!), assim: abrimos páginas à sorte (como quando espiolhamos um livro numa livraria) e “deixa lá ver o que me aparece”. Senti um sorrisinho traquinas e desvelou-se-me, sem surpresa alguma, o rosto da dona da voz, e ela: se a sua interação for com uma deusa criativa, uma interacção tipo acorde que prepara mudanças de harmonia, será que irá entender mais bem o que lhe digo? Embatuquei aparvalhado, ela a trautear baixinho “a river flows in you” não se deu por achada, e ciciou: vou tentar responder à sua pergunta (acima) com uma outra pergunta, esta: “quem é que, dia após dia, ano após ano, estimula (de forma sistemática) a sua criatividade fazendo dela uma rotina inteligente e saudável?” Calado, nem tugi e nem mugi, percebi o recado, seja, quando escrevo linearmente também recorro a páginas soltas que já tinham sido escritas, a modos que o mesmo que leitura do livro da vida em sonhos. E a voz: sou uma voz calada (calada?) dentro de si, pertenço a uma deusa-humana, herdeira da mente racional dos gregos e escolhida pelo Deus (que faz promessas) dos hebreus. Não há deusas-humanas, arrisquei afoito. Claro que não há, a resposta da voz foi imediata. Deusa-humana só há uma, a minha dona e mais nenhuma, agora tenha presente as semelhanças entre a imagem que escolheu para encimar esta conversa com o desenho que sustenta a página, linhas e mais linhas e mais: as imagens falam umas com as outras, certo? Adiante, por agora, a conversa já vai longa, registe: a sua criatividade quotidiana, rotineira e contínua (transformada em rotinas inteligentes e saudáveis) depende de alguém escolhido - a minha dona - e que nasceu para alimentar o mundo de beleza e de bondade e de verdade (a beleza, a bondade e a verdade são os produtos caríssimos dos cérebros humanos muito bem feitos, são a presença de Deus no cérebro humano). Deixo-lhe uma certeza: Deus alimenta dia sim dia sim o nosso mundo na forma de uma agulha bailarina equilibrada verticalmente na superfície de um espelho. Impossível, desafiei, uma agulha bailarina equilibrada verticalmente num espelho? Impossível não é, a criatividade não tem limites, ripostou a voz melodiosa, e, sem tem-te nem mas, deu às de Vila Diogo. É assim, que se há-de fazer! Cá para no meu imaginar, confidenciei com os meus botões, quiçá a resposta more no avesso da pergunta inicial, se assim for, a pergunta será: a criatividade humana depende de um processo criativo prévio que a torna possível, ou é um fenómeno emergente?
Adenda
que (re)visitar, com tempo e vagar (ups, rimou!).

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