Neurodireitos: as estórias que tecemos com as que queremos...
(mensagem recebida)
Ontem, vida minha, que quer, demorei-me numa frase, esta: "Pensar o futuro é combinar as estórias que tecemos com as estórias que queremos". Cá para mim, tem a ver com o tema o livre arbítrio (um neurodireito), acreditando-se que o futuro é construído por cada um de nós. Meu admirador de mim, tenho uma reserva: se fosse totalmente assim, o futuro seria exactamente como o songamos, digo, como o sonhamos, mas a vida ensinou-me que não é sempre assim. Céus! E quando o que eu teço como trama do futuro não coincide com a estória imaginada pelo outro protagonista da estória?! Ai, não é fácil... Adiante. Por lhe ter falado em livre arbítrio. Recordo-me agora que, uns tempos atrás, tive uma conversa de pé de orelha com o Rafael Yuste (olhe só - na imagem - o quadro que ele me ofereceu, lindo, pois não é?). Dizia-me ele que, considerando os avanços científicos sobre o conhecimento do cérebro, era altura de eu (eu, tinha que ser eu, só podia ser eu!) começar a ponderar a integração dos neurodireitos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Amochei, fiz que não ouvi, a fome não me largava e o ar estava encrespado. Mas, enquanto uma barrita de chocolate percorria cansada a vereda do meu estômago, perguntei-lhe sorridente: quais são os neurodireitos? Respondeu: (1) o direito à Privacidade Mental (os dados médicos do cérebro das pessoas devem ser tratados com uma confidencialidade equiparável à confidencialidade do transplante dos órgãos); (2) o direito à Identidade (significa que o eu nunca poderá dissolver-se em qualquer rede); (3) o direito ao Livre Arbítrio (todos e cada um e cada uma devem ter a oportunidade de escolher o que diga respeito à sua vida); (4) o direito de Livre Acesso a Todas as Tecnologias (um direito que deve evitar qualquer forma de tecnoeugenia). Espertinho, respondi-lhe, sei bem que o cérebro é a máquina mais sofisticada que existe na Natureza, está desenhado para entender tudo; mas, céus, num cruel paradoxo de ressonâncias (acorda, Hartmut Rosa!) bíblicas, o cérebro não é capaz de se compreender a si mesmo: acaso sabemos em que parte do cérebro e sob que formas se organizam as funções básicas do que nos faz humanos? Espante-se, meu admirador de mim, atente só que ele me respondeu (ipsis): sim sabemos, mais, o cérebro combina as estórias que tecemos com as estórias que queremos. Não! Disparei. Sim, tenho a certeza! Trauteou ele.
Adenda
Não é por nada, vida minha, mas logo que souberam da minha conversa com o Rafael Yuste, que gente, desataram alguns a rabiscar uma carta de direitos fundamentais na era digital. Até que concordo com a iniciativa legislativa, mas, coitaditos, (1) na fundamentação, ficaram-se por uns parágrafos importantes (e bem amanhados), (2) no inscrever direitos, compilaram uns já existentes e acrescentaram outros, o 20º dá-me cabo da cabeça (alô, David Chalmers), chegaram a 21, Nossa Senhora, tantos direitos. Adiante..., que agora outros afazeres me chamam.
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