Meu príncipe, que bem se ajeita na temática omariana
Sou
assim, meu caro, sou assim, sempre e sempre em qualquer circunstância, sou animadora
da vida, mesmo (e até quando) a vida me parece trocar as voltas, nada faço para que outros sofram com a minha sabedoria; e, prometo, jamais me abandonarei à cólera, vou tentar dominar-me e sorrir ao destino que me prende a si. Sabe que gosto
de o sentir-poeta pensador, sabe, pois não sabe? Mas, a partir de hoje, gostava
que fosse o meu príncipe omariano, é assim que eu o chamo em dias de intimidade:
“meu príncipe”, o predilecto das fadas, parecido com o sábio-poeta-filósofo Omar.
Olhei, absolutamente siderado, para a imagem que me mostrava, e passei-me com a única fada que existe neste mundo, ela
sabe isso muito bem, vinha rosada e curvilínea, vestido lindo em sapatos rasos. Porquê,
porquê este seu inesperado desejo, sou o seu príncipe mas vou deixar de existir na
sua realidade, é isso que me quer dizer? Perguntei. Deixou que as minhas
palavras se estatelassem, fez-se de desentendida, e retorquiu: nada disso, meu caro, nada disso, quero
apenas acalmar a minha alma ferida e, no íntimo, desejo um “Rubai” feito por
si, melhor ainda, a verdade é que quero mesmo que me ofereça um “Rubai´yát”. É,
derreti-me, a mulher mais bonita e mais fina do universo, interrompi, e
adivinha tudo o que eu faço; por favor, diga-me como é que sabia que estava a
organizar alguns poeminhas, nascidos de si, em forma de “Rubai” e para organizar um “Rubai´yát” com o seu nome? Oh, oh, meu caro, suspirou, então e as minhas
conversas com o Fernando Pessoa (sabe que ele até escreveu um livro "As canções de beber"?) sobre o famoso “Rubai´yát” (século XII) do Omar
Kahyyám; não lhe falei ainda dessas conversas vadias? Sabe que o “Rubai”
integra um género lírico e é uma trova persa (com rima aaba), espero que não tenha dúvidas
que um “Rubai´yát” (plural de “Rubai”) é um conjunto de vários “Rubai”, não tem,
pois não tem? Julgava eu, ouvi-me dizer, que a iria surpreender, afinal até a
poesia do Omar Kahyyám conhece; tão pequenino me sinto junto de si, não mereço
ser o seu príncipe, mas que gostava de o ser, lá isso eu gostava. Pois então, meu
caro, trauteou as palavras enquanto ajeitava a franja persa, para ser o “meu
príncipe” estude um pouco melhor aquele género lírico, cuja temática omariana é a
precaridade da vida, a alegria do vinho, a vivência do amor, a procura de viver
o momento; e não desista de mim. Passo à frente a referência às suas conversas
com o Fernando Pessoa, sugeri, se me deixar ler o “Rubai” que, agora mesmo, escrevi
para si. Ela pendurou as pestanas nos olhos bugalhados, e ciciou: sou toda ouvidos. Arrisquei a medo: “Teço a vida sempre a pensar em si/ desde a
primeira vez em que a vi/não fui rei e nem pária, sou príncipe/e só fundido
consigo a embriaguez senti”… Emocionou-se e linda de viver e com duas lágrimas (marejadas) a assomar-se às janelas dos olhos grandes protegidos com cortinas pestanudas, exclamou a sorrir: meu
príncipe, que bem se ajeita na temática omariana.
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