Não, não é loucura acreditar que nas obras de arte viajam segredos

Image result for Mujer en el jardín en Sainte-Adresse' (1867), óleo de Monet
Quando, atento e curioso, me demorei no óleo (1867) de Claude Monet "Mulher no jardim em Sainte-Adresse", a surpresa que tive foi mais que muita, seja: tantos anos passados, como poderia eu pensar que, desconhecendo a existência do quadro, logo o jardim me parecesse pintado, mas a mulher (de beleza deslumbrante) me parecesse real? Surpresa maior ainda. Mudo e quedo e atarantado, ouvi distintamente uma voz que me dizia: as obras de arte são cápsulas do tempo, sou eu que estou no quadro, escreve o que te vou ditar. E, em tom suave, trauteou: nos jardins passeio o olhar pelas flores brancas, amarelas, vermelhas, vejo as rosas que surgem dos espinhos, vejo ainda lá longe os lírios. Comparo sempre essas flores ao rosto daquele cujo amor se apossou de mim e a minha única ambição é agradar-lhe. Quando julgo encontar uma flor que se parece com ele, colho-a e, enchendo-a de beijos, falo-lhe. E, quando aspiro o perfume dessa flor, não sou capaz de dizer quanta voluptuosidade em mim nasce: os meus suspiros são as suas testemunhas verídicas. Sem lhe responder (impossível seria tal era a qualidade das suas palavras), apreciei a delícia da sua presença (no quadro e na voz e nas palavras) enquanto, no mesmo tempo, um sopro tépido e suave tipo seda de andorinha me acordava os sentidos tolhidos de encanto. Não, não é loucura acreditar que nas obras de arte viajam segredos.
Adenda
... somos seres emocionais que aprenderam a pensar.

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