Cada ser humano é uma amálgama de estórias que o seu próprio cérebro inventa
Depois de ouvir Jim Holt fica-se com uma pulga atrás da orelha, parece não haver nada de muito novo no que ele diz. Vai daí, até uma (re)leitura dos diálogos Timeu e Crítias de Platão é chão que deu uvas, seja, o mundo, o universo, a existência, isso, tudo isso são narrativas humanas mais ou menos conseguidas (dias há em que o verniz estala). Mas há mais que isso: os seres humanos são eles próprios narrativas. Assim: também cada ser humano é uma amálgama de estórias, é uma narrativa que o seu próprio cérebro inventa e sussurra, hipnótico e meticuloso. Claro que sim, claro que o cérebro é um processador lógico, mas é mais ainda, é sobretudo um processador de informação, é um narrador de estórias: esta é a sua função primeira. Função primeira que se traduz em dotar os seres humanos de argumentos que os ajudem a controlar o seu ambiente (até, pasme-se!, com recurso à sofrologia), argumentos que os façam sentir ser o centro de uma narrativa para a qual lhes está reservado o papel de protagonista e assim a vida ganhando um significado especial. De entre os milhões de estímulos elétricos que viajam dos sentidos até ele, a maioria deles muito confusos, o cérebro escolhe os que mais lhe dão jeito para construir uma narrativa consistente sobre o mundo, sobre o universo e sobre a existência nas partituras sociais, que maravilha!
Adenda
Perguntas que sobram: (i) como é que o cérebro produz as experiências diárias e orienta o comportamento? (ii) como é que um quilo e meio de gelatina permite aprender uma língua estrangeira, decidir o que se escolhe para o almoço ou até fazer opções? Registe-se que ainda que as células que compõem o cérebro sejam importantes nas situações referidas, são as substâncias químicas que as envolvem, e lhes permitem comunicar, que pintam os pormenores complexos que dão cor a todos os aspectos do dia a dia. Mas como é que essas moléculas minúsculas dão azo ao especto complexo da experiência humana, na sua riqueza, nos seus altos e baixos, nas alegrias e nas tristezas? Muito caminho há ainda que percorrer, muita estrada a fazer!
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