A memória é essencial para aprender
Não é tarde e nem é cedo, é o tempo certo para nos arrimarmos aos três tipos principais de memória, quem sabe consigamos estar de acordo uma vez na vida, que te parece? Parece-me bem, respondi à minha consciência, e se partirmos de uma definição simples de memória? Isso, retorquiu, assim: a memória é o registo que deixam no cérebro as experiências pessoais, algumas dessas experiências podem evocar-se como recordações conscientes, outras permanecem sempre ocultas e assim influenciam a mente e o comportamento sem que demos por isso. Alto aí, encabrestei-me, uma consciência não tem memória, as consciências são memória, certo? Quase certo, respondeu, isso agora interessa pouco, adiante, vamos lá, a neurociência sempre fala de três tipos de memória e até que não está mal esgalhado: (i) a memória implícita ou de hábitos, (ii) a memória explícita ou declarativa, (iii) a memória a executiva ou de trabalho, e cada uma delas está relacionada com estruturas cerebrais particulares. Sei que sim, atrevi-me, no primeiro tipo estão as nossas habilidade diárias: falar, escrever, carregar num interruptor, conduzir um automóvel - todos os hábitos consistentes da vida que funcionam automatica e inconscientemente e que se formam em circuitos neuronais dos gânglios estriados do interior do cérebro. Santa Maria! a criatura tomou conta da criadora, explodiu ela, assim é como dizes, continuou, mas além de saber andar de bicicleta ou de conduzir uma automóvel também tens hábitos mentais, recordas os lugares onde vives, até uma tabela de multiplicar e ideologias a prática e a experiência implantaram nos teus neurónios; mas mais, uma das virtudes da memória implícita é a consistência - pensa que só pela forma de andar tu consegues reconhecer alguém, até consegues ver a sua cara -, e a resistência à neurodegeneração: a memória implícita consegue resistir ao envelhecimento e às doenças. Mui longa vai hoje esta nossa conversa, interrompi, não me queres dizer de forma simples o que caracteriza a memória explícita ou declarativa, sempre adiantamos tempo. Não se fez rogada, e: a memória explícita é uma memória tanto semântica quanto autobiográfica – por escrito ou verbalmente permite evocar todo o tipo de conhecimentos e experiências pessoais -, mas não é fiel com a memória implícita, é promiscua e inconsistente, mistura coisas diferentes e muda com o tempo, para ela, recordar o passado também é mudá-lo, é uma memória que evoca mais o que agradou e menos o que aconteceu, forma-se inicialmente no hipocampo – uma estrutura cerebral que perde conexões neuronais e volume ao longo da vida - , atenção que é importante, se se evocar muitas a memória explícita ela acaba por se converter em memória implícita. Sendo assim, atirei o barro à parede, o terceiro tipo de memória, a memória executiva (ou de trabalho) é a memória que se utiliza quando retemos informação in mente durante uns instantes para pensar, para conversar, trata-se de uma memória transitória que depende do córtex pré- frontal no cérebro, a parte mais evoluída do cérebro humano que actua como uma espécie de director de orquestra para dirigir os pensamentos e os raciocínios e as decisões. Bingo!, exclamou ela, regista que, do ponto de vista neurobiológico, uma das capacidades mais complexas e úteis do cérebro é a capacidade de aprender, e para aprender são as propriedades de cada tipo de memória e a sua ancoragem cerebral que marcam o ritmo, vida!, meu admirador, quão tão inteligente és!, é a mim que o deves, guarda para memória futura. Nem respondi, para quê!, podia lá ser de outra forma!
Amigo este diálogo não vai ficar kafquiano?
ResponderEliminarObrigado.
Amigo,este diálogo não vai virar kafquiano?
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