Porque é que as pessoas visitam os museus em silêncio, sabes?
Gostei, a sério, ontem gostei muito de apreciar a genialidade do Niels Bohr, céus, o quanto tanto também eu te poderia falar sobre uma dita ferradura que eu cá sei, adiante, hoje pergunto-te: porque é que as pessoas visitam os museus em silêncio, sabes? Verdade, é verdadinha, quando a minha consciência me aparece com perguntas deste tipo, fico à coca para ver de que lado salta o coelho, alguma ela traz na manga pela certa, mas respondi: num museu cada obra de arte é única, e este carácter de ser única é sinal de sagrado, é uma revelação mística da transcendência, é a aura - um singular trama de espaço e de tempo: a única aparição do distante, tão perto ele esteja - que caracteriza a obra de arte, assim o disse Walter Benjamin, daí que só no silêncio seja possível entender as maravilhas produzidas pelo génio humano. Gosto da tua resposta e amadrinho-a, vai muito comigo quando medito e contemplo, deixa que te diga, no entanto, que um museu não é uma necrópole, pelo contrário, um museu é um lugar onde o mundo escapa à morte, é um lugar onde as obras de arte dissociadas da sua função religiosa e social formam um mundo onde a consciência dos humanos - é o meu caso que sou a tua consciência crítica - escapa à história e pode deambular num lugar-onde de fantasmas em que a arte só pertence à arte. Se assim é, interrompi no jeito de quem entendeu, o importante é deixar que as obras de arte falem umas com as outras para aprender a ouvir a voz do silêncio. Nem mais, retorquiu ela jovial, a resposta à minha pergunta é mesmo essa: as pessoas visitam os museus em silêncio para que as obras de arte falem entre elas, não esqueças que a vida é um dom de sonhar e é um recibo por assinar. E saber ouvir a voz do silêncio também é arte, pois não é?, arrisquei. Então não!, trauteou ela.
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