Arabidopsis thaliana foi o que ela disse?
Contei-lhe
e não se lembra, vida minha, contei-lhe que há uma planta (pelo
menos uma) que, nas sementes, guarda a memória da mãe, olhe a imagem
(dessa planta) que agora lhe mostro, mais parece um desenho meu com
folhas verdes, verdade? Não há pachorra, disse de mim para comigo, mudou a
hora, é mais cedo, já durmo pouco e a única fada musa que eu
conheço decide acordar-me, ainda o céu está salpicado de estrelas
e nem ainda o despertador do sol tocou, para me falar de sementes de plantas que guardam a memória das mães. Ela, cabelo apanhado, linda e sorridente e
perfumada, interrompeu-me o pensamento lamurioso: estou deveras
deliciada consigo, a sua mente pensa de uma forma, o seu corpo age de outra. Encabrestei-me:
como é que é? Ui, que medo, que medo tenho, trauteou, acalme-se, estou apenas a
relembrar-lhe este
comunicado sobre uma
descoberta científica, e a constatar, agorinha mesmo, que pensa de
uma maneira e que age de outra. Optei, curioso, por não ripostar, e:
que planta é essa, porque é que eu penso de uma maneira e ajo de
outra? Não se fez de achada, rodopiou, e disse-me que a planta se
chama "Arabidopsis thaliana" e que eu estava aborrecido por
ela me ter acordado tão cedo mas que o meu corpo agia de forma
idêntica ao despertar da planta thaliana. O quê, disparei, o meu
despertar é igual ao de uma planta? A sua voz melíflua trazia água
no bico, respondeu-me: no despertar matinal a arabidopsis thaliana
endireita o caule. Não percebo, charadas a esta hora, não, chega, já chega, ultrapassou os limites.
Chega não, cubra-se, isso sim, ou eu não respondo por mim, disse ela no seu
gracioso sorriso, enquanto surfava uma gargalhada solta e atrevida.
Apanhado em flagrante, emudeci. Arabidopsis thaliana foi o que ela
disse?
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