São os olhos da pele que mostram o longe e o oculto e o presente

Image result for olhos da peleOs olhos da pele” é um excelente e precioso ensaio do arquitecto finlandês Juhani Pallasmaa, onde, a determinada altura, se pode ler “todos os sentidos, incluindo a visão, são prolongamentos do sentido tacto; os sentidos são especializações do tecido cutâneo e todas as experiências sensoriais são modos de tocar, portanto, estão relacionados com o tacto”. Que sim, que o tacto é um sentido visceral, que nos ensina o que permanece à pele, que é pontual e conciso, que é uma fronteira do corpo e o seu limiar, fácil é de entender. Mas há mais. É o sentido do tacto (sei-o de experiência feito) que explica quanto cabe (não é definível o sentimento de prazer num sorriso cheio de doçura) na ressonância de um toque concreto e intencional e benfazejo e de verdade revelada: por isso, creio, o tacto também é um produtor e (pasme-se) um descodificador de múltiplas linguagens. Quem sabe, pensando assim, se entenda melhor o pensamento de Merleau-Ponty quando diz que o corpo está para o mundo como o coração está para o corpo. De caminho, com a curiosidade à flor da pele, vou ler Bachelard e saber o que ele entende por polifonia dos sentidos. Se a vida é completamente táctil, uma polifonia dos sentidos liberta-nos do mundo frívolo, banal, às avessas: será que uma polifonia dos sentidos é a ansiosa construção quotidiana de forrar a vida com vegetação verdadeira, poética, natural e humana?
Adenda
Lembrei-me, só agora (porquê, sei eu lá bem) de três formas de comunicar.

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