GUIA DE UM ASTRONAUTA...


Às vezes, as janelas de uma nave espacial enquadram milagres. Um novo nascer do Sol a cada noventa minutos: um bolo com camadas que começa com laranja, depois uma espessa camada de azul seguida da cobertura mais rica e escura, decorada com estrelas. Os padrões secretos do nosso planeta são revelados: montanhas projectam-se bruscamente de planícies ordenadas, as florestas são golpes de verde contornados por neve, os rios brilham à luz do sol, torcendo-se e curvando-se como lagartas prateadas. Os continentes estendem-se, rodeados por ilhas espalhadas no mar como delicados fragmentos de casca de ovo. A flutuar na câmara antes da minha primeira caminhada espacial, eu sabia que estava à beira de uma beleza ainda mais rara. Sair á deriva, totalmente imerso no espectáculo do Universo enquanto me mantinha agarrado a uma nave espacial em órbita da Terra a 17500 milhas por hora – era o momento em que sonhara e que trabalhara para alcançar durante a maior parte da minha vida. Mas no limiar do sublime, deparei-me com um problema um pouco ridículo: qual seria a melhor forma de sair? A escotilha era pequena e circular, mas como todas as minhas ferramentas amarradas ao peito e um enorme conjunto de tanques de oxigénio e equipamento electrónico preso às cordas, eu era quadrado. Astronauta quadrado, buraco redondo.” (...)
(Da Introdução)

Comentários

Mensagens populares