A pressa leva a nenhures e a indiferença isola
Por vezes acontece, acontece-me ter mais atenção quando ando
na rua. Ontem, por exemplo, calcorreando uma avenida da cidade, matutava ainda em Paris dos séculos passados e no judeu Walter Benjamim. Senti que naquela
avenida tudo era pressa, frenesim, medos e sei lá que mais, triste. Pois, mas, tantos
olhos, outros tantos cegos. Quem atenta no senhor já muito idoso
vestido de luto, quem se demora na mulher trombuda, quem repara nos jovens com
livros debaixo do braço e passo leve e estougado, quem admira a mulher elegante que
telefona (smartphone, já aprendi), telefona olhando a vitrina da loja de roupa enquanto se
admira de perfil num vestido verde-musgo, quem imagina a conversa dos dois amigos (como é que sei que são amigos,
sei homessa!) a conversar e encostados
à porta do café a fumar um cigarro, quem percebe a hesitação de duas amigas
na passadeira de peões com um pedinte à ilharga, quem atenta em todos eles? Eu passava, olhava e não via,
esquecido dos outros e mal lembrado de quem sou. Que fazia eu naquela avenida? Se
a vida é assim, dizia-me, a pressa leva a nenhures e a indiferença isola..., alto lá, agora pára o baile, chega de filosofia: um rabino na
fila para o autocarro, pode lá ser, também eu sou judeu?
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