A sopa de alho há muito foi inventada
Sim, meu caro, recebi as suas perguntas, matutei nelas e diverti-me com as minhas respostas. E, tanto me diverti, que dei por mim a dizer: a sopa de alho há muito foi inventada. De soslaio, percebi o ar tostadinho de praia recente da única fada que atrapalha o tempo; vinha de cabelo cortado, vestido creme florido com uma alça do soutien a assomar-se catita, sabrinas leves e com vontade de falar, linda de viver. Nem pense rapinar-me o meu lençol de linho velho, a manhã está fresquinha e eu preciso de dormir; mal que lhe pergunte, acha bem acordar-me a esta hora? Recordei que lhe tinha enviado uma lista de perguntas sobre as neurociências e educação, e pensei: devo ter feito perguntas estranhas para ela tanto se ter divertido. Rodopiou, riu-se, e disse que sim, que tinha acabado de ler o meu pensamento, que as perguntas até eram pertinentes, mas que tudo há muito estava inventado, que adorava acordar-me madrugada cedinho e que podíamos trocar algumas impressões, fazendo eu apenas três perguntas porque ela teria ainda que tecer o tempo do amor. Sustive uma exclamação quando a penugem macia do seu antebraço roçou a minha pele: seja, anuí. Dialoguemos então, desafiou, abramos um parênteses e dialoguemos taco a taco, vamos lá. Acusei o toque, engatilhei as três perguntas e…
O que é que hoje se sabe do cérebro que possa
aplicar-se à educação?
É possível identificar as zonas do cérebro que se activam mais durante
um qualquer processo educativo, saber de que forma o cérebro está mais receptivo a
incorporar conhecimentos, conhecer quais as melhores etapas da vida para fazer
aprendizagens significativas.
Se assim é, como evolui o cérebro na primeira
etapa da vida?
Estabelecem-se, entre os 0 e os 3 anos, muitas conexões na zona
superficial do cérebro, sem que a criança esteja consciente; e não estando a
memória desenvolvida, a criança interioriza o ambiente em que vive; eis porque uma
criança nunca recordará nada do que lhe aconteceu até aos 3 anos, a menos que criança
viva um ambiente de violência ou stress estrutural; se tal acontecer, o cérebro
desenvolverá um padrão que dificilmente poderá mudar, seja, reagirá à violência
gerando mais violência ou escondendo-se dela.
Faz algum sentido ensinar a ler e a escrever
antes dos 6 anos?
Desde que não interfira com o normal desenvolvimento: entre os 4 e os
sete anos o cérebro faz conexões entre a parte mais superficial e a mais
profunda (a memória) e torna-se possível aprender a ler e a escrever; mas mais
importante que escrever é conseguir que as crianças aprendam a manejar as mãos:
a manipulação fina, seja, escrever, fazer desenhos, geometria. Os neurónios que
controlam a manipulação fina são os neurónios da fala e da linguagem; daí que
as crianças que aprendem a manejar os dedos de maneira fina, terão mais
facilidade para um discurso complexo e elaborado.
Que
tal as minhas respostas, meu caro, às suas três perguntas? Ciciou de nariz franzido. Excelentes e claras, respondi, enquanto
olhava deliciado para as mãos dela, lindas e com dedos finos e nervosos; de certeza, disse de mim para mim, que em manipulação fina nunca ninguém lhe levou a palma, aposto singelo contra dobrado: o seu discurso é complexo, elaborado e claro, sempre e em qualquer circunstância. Mas porquê, perguntei ainda, porquê a sua expressão "a sopa de alho há muito foi inventada" a propósito das minhas 7 perguntas sobre neurociências e educação (faltam ainda as respostas às outras quatro, não se esqueça)? Ora essa, exclamou enquanto se enrodilhava em novelo (ai vestido vestido para que te quero), deixe as outras perguntas em banho-maria, agora é tempo de agir...; ora essa, meu caro, concluiu, porque a investigação (sobre a estrutura e função do cérebro) vem confirmando que a pedagogia há muito tempo (via tentativa erro) se adiantou aos resultados da investigação (uma tese interessante de estudo, pois não é, ai é, é mesmo). E, sendo assim, desmanchou uma gargalhada em risos lego com cores, sabendo eu (de fonte limpa) que os seus antepassados eram judeus sefarditas e que eu já fui a Esther, nada melhor que lhe recordar uma sopa das comemorações da festa de Purim: também, meu caro, como a pedagogia, a sopa de alho antes de o ser já o era... Pedagogia e sopa de alho?! Festa de Purim?! Ela já foi a Esther?! Qual Esther?!
Adenda (mensagem recebida)
Gosto (gosto, gosto, gosto) de ler o que escreveu sobre a nossa conversa entre as 5.13 e as 5.28 da manhã, bem que poderia ter ido um pouco mais adiante no relato, mas não é disso que lhe quero falar. Pense bem, devagar e comigo. Acabo de ler esta e esta notícia... Os senhores juízes fizeram o seu trabalho ((não se esqueça que o processo daquelas sete crianças (a mais nova tinha 6 meses e a mais velha 7 anos) se arrasta desde 2012)) apurando a existência de ilegalidades processuais e concluíram que o processo estava carregadinho de legalidades e procedimentos correctos. Pois bem, passaram três anos atribulados na vida destas crianças (atente de novo nas minhas respostas às suas perguntas); e agora? Agora, nada, cumpra-se, vida a minha: uma das crianças já terá sido adoptada (?) e as outras continuarão institucionalizadas tendo em vista a adopção. Quem (quem?) garante aos senhores juízes que o superior interesse das crianças foi (e está) a ser salvaguardado? Eles não percebem que tirar os filhos a uma mãe que os quer, mesmo sem ter condições para os cuidar, não passa (necessariamente) por dá-los a outros? E saberão que três anos na vida de uma criança é muiiiiiiiiiiiito tempo? Que sabem eles da estrutura e do funcionamento do sistema de protecção de crianças em perigo? Será que alguma vez foram saber como estão organizadas e como funcionam as instituições de acolhimento? Acaso sabem que o Instituto da Segurança Social já entregou ao conjunto das instituições de acolhimento daquelas sete crianças (o requinte foi de tal ordem que as crianças foram acolhidas em instituições diferentes: o sistema de adopção não funciona mas tem regras, ai isso tem, alô Michel Foucault!) mais de 100 mil euros (contas feitas pelo menos) durante os últimos três anos? E o que fizeram? E o Ministério Público por onde anda? E as crianças nada têm a dizer, depois de três anos de espera? Até o senhor Provedor de Justiça não viu nada, nunca ouviu nada, nada tem a dizer, prefere assobiar para o lado... Porque é que não há um Provedor da Criança em Portugal? Convenção dos direitos da Criança?! Que é lá isso?
Adenda (nova mensagem recebida)
Leia só, meu caro, o que alguns com responsabilidades acrescidas vão dizendo e opinando, que descaramento, então eles nada têm a ver com o assunto? É só tirar água do capote, e: blá. blá, blá... A propósito de blá, blá, blá, quer um exemplo ainda mais elucidativo? Quer? Então veja esta "Resolução da Assembleia da República"! Interessante sem interesse nenhum: muito se escreve neste país, e nada se diz e nada se acrescenta, o que importa é que tudo fique na mesma, vida a minha, que sina, que incompetentes... Vou agora reler, meu caro, este seu texto, faça o mesmo, venha daí!
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Gosto (gosto, gosto, gosto) de ler o que escreveu sobre a nossa conversa entre as 5.13 e as 5.28 da manhã, bem que poderia ter ido um pouco mais adiante no relato, mas não é disso que lhe quero falar. Pense bem, devagar e comigo. Acabo de ler esta e esta notícia... Os senhores juízes fizeram o seu trabalho ((não se esqueça que o processo daquelas sete crianças (a mais nova tinha 6 meses e a mais velha 7 anos) se arrasta desde 2012)) apurando a existência de ilegalidades processuais e concluíram que o processo estava carregadinho de legalidades e procedimentos correctos. Pois bem, passaram três anos atribulados na vida destas crianças (atente de novo nas minhas respostas às suas perguntas); e agora? Agora, nada, cumpra-se, vida a minha: uma das crianças já terá sido adoptada (?) e as outras continuarão institucionalizadas tendo em vista a adopção. Quem (quem?) garante aos senhores juízes que o superior interesse das crianças foi (e está) a ser salvaguardado? Eles não percebem que tirar os filhos a uma mãe que os quer, mesmo sem ter condições para os cuidar, não passa (necessariamente) por dá-los a outros? E saberão que três anos na vida de uma criança é muiiiiiiiiiiiito tempo? Que sabem eles da estrutura e do funcionamento do sistema de protecção de crianças em perigo? Será que alguma vez foram saber como estão organizadas e como funcionam as instituições de acolhimento? Acaso sabem que o Instituto da Segurança Social já entregou ao conjunto das instituições de acolhimento daquelas sete crianças (o requinte foi de tal ordem que as crianças foram acolhidas em instituições diferentes: o sistema de adopção não funciona mas tem regras, ai isso tem, alô Michel Foucault!) mais de 100 mil euros (contas feitas pelo menos) durante os últimos três anos? E o que fizeram? E o Ministério Público por onde anda? E as crianças nada têm a dizer, depois de três anos de espera? Até o senhor Provedor de Justiça não viu nada, nunca ouviu nada, nada tem a dizer, prefere assobiar para o lado... Porque é que não há um Provedor da Criança em Portugal? Convenção dos direitos da Criança?! Que é lá isso?
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