Incómodo de fada narceja


Deitei-me tarde, dormi pouco, meu caro, dormi pouco, sonhei muito e acordei cedo, muito cedo, ainda lusco-fusco. Dirigi-me ao meu terraço de amores-perfeitos e parei para pensar se era mesmo real o que estava a acontecer e se eu estava mesmo de acordo comigo. Enquanto pensava que a minha trepadeira de campainhas me dava mais prazer que a metafísica dos livros, contemplei o despertar do dia na débil luz que desvanecia as imensas e diáfanas sombras; percebi que a manhã, em inocentes brincadeiras, transpirava frescura e o ar frio soube-me bem… Agora já sei porque é que os meus rabiscos são o meu lugar sagrado, são o ninho dos meus segredos e são o poiso dos meus devaneios. Tudo o mais é a vida de todos os dias, onde somos outros com amores e desamores e segredos e dessegredos e limites e deslimites quotidianos, é a vida a ser-se, pelo dia dentro e, por vezes, pela noite fora. A propósito da beleza da vida a ser-se, dia dentro e noite fora: tenho a certeza que muitos pouco percebem da vida secreta das abelhas, bichos-da-seda, mariposas e outras estranhas criaturas aladas ou aluadas, que povoam o meu terraço de amores-perfeitos e os meus rabiscos de cores límpidas… Mas (oh vida a minha!) porque é que hoje me falta sol generoso e xarope de seiva de ácer, e porque é que me sinto uma húmida raiz de alecrim cheiroso e uma tímida narceja dos lagos? Consegue adivinhar ou já sabe?!

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