Ciúmes benfadados?! Entendi!
Eu sabia, garanto-lhe
que sabia que os seus ciúmes tinham a ver comigo… De ar solto e dedo de hipátia
em riste, se me dirigiu, já a tarde caía em cima da brisa do mar, a única fada de
olhos de águia. Sabia o quê, perguntei,
enquanto o último raiozinho de sol se escapulia para junto dela. Sabia que o
amor muda o cérebro, trauteou feliz.
Só não sabia ainda, continuou, que a neurociência já tinha apurado (e confirmado) que a estreita convivência e o contacto sexual
aumentam o número de receptores no cérebro para os dois neurotransmissores
implicados na criação de laços afectivos, a oxitocina e a vasopresina. Olhei-a
de frente (estava linda de óculos finos azul mar e cabelo apanhado); e, em medo curioso,
quis saber qual o mecanismo biológico responsável pelo comportamento amoroso. Com
ar de sábia guicha, tanto quanto a brisa suave e fresca que soprava de suão, disse que adorava (adoro, adoro, adoro...) que eu a considerasse uma obra de arte viva (até me aconselhou um colóquio), e lá foi, linda de estar, explicando que o comportamento amoroso tem origem epigenética, e que resulta de
modificações induzidas no material genético pela convivência e pelo carinho.
Então se essas modificações alteram o ADN estamos perante algo surpreendente, arrisquei afirmar. Claro que não
alteram, retorquiu, apenas fazem com
que ele se expresse de forma diferente, selando (pense num selo de cera) uma
união feliz e tornando-a duradoura… E o que é acontece no meu cérebro (vá, diga lá se sabe, insisti...) se os dois
neurotransmissores, com a sua presença juntinho de mim e com as suculentas festas das suas mãos trôpegas em
desvario, questionei-a rindo-me a bom rir, explodem? Olha-me este, sussurrou, que ignorante que me saiu, melhor
que a encomenda! A oxitocina, martelou
as palavras, é a hormona do apego mas é minha; saiba que a vasopresina é
apenas a versão masculina da hormona do apego e saiba que, quando está activa,
é ela que desencadeia os seus destrambelhados ciúmes benfadados... Ciúmes benfadados?! Entendi!
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