Solilóquio de fada-decidida

Canto e sorrio; e esta é a razão para eu dizer, agarrando os ecos e os acordes de uma música de 48 segundos: o mundo é demasiado pequeno para mim. Quando algumas lágrimas salgadas (os risos e as lágrimas, há milénios que vivem juntos) cristalizam nos meus olhos grandes bogalhados de pérola, coloco-me, linda, altiva e segura, em frente ao meu espelho preferido e olho-me com amor de mim, enquanto procuro alguma pestana vadia. Olho-me e (re)digo-me que o mundo é pequeno demais para mim…, fui fiel, amei dedicada, vagarosa, cuidadosa e todos me traíram e abandonaram. Os homens são pequenos, mesquinhos e as suas paixões parecem ser curtas. Abracei e prendi todos os que amei: prendi nos momentos mais belos da minha vida e eles partiram de mim porque eu os deixei a todos; quem decide, sempre, sou eu. Bastas vezes, nos dias que correm, irrita-me o dia-a-dia sem criatividade e que interfere na continuidade de mim num alguém que eu escolhi e cingi no meu corpo…, quero acariciar, curar, embalar, envolver, dissolver-me, hora sim, hora sim. Pois é, decidida e feliz como sou, sempre que me encontro em frente a um espelho, brinco comigo própria e falo de tudo o que me vai na alma, sobretudo das marcas que deixo no mundo…. E ainda escovo o cabelo, ajeito a franja, experimento as narinas e espio a minha tartaruga verde. Não é que (isto deve ter uma explicação curiosa), quando me assoo e fungo, receio que o meu nariz fique no lenço; é nesses momentos que o espelho se diverte comigo e eu com ele, no sabor da vida acordada para o futuro. Eu sou assim, que se há-de fazer?! Abro, todos os dias, os meus olhos (estranhamente, ontem, dilataram-se desafiando as narinas), os meus braços e as minhas mãos, em jeito de dádiva e de colo…, eu bebo a vida como um mata-borrão. Eu sou, decidida e danada de alegria, a guarda da vida frágil e delicada.

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