Solilóquio de fada-concha

O dia descolou-se da noite e eu caí desamparada entre os dois. Fiquei ligeiramente aflita por não saber que partido tomar: se pela folha escura, laminada e adormecida da noite ou se pela folha com olheiras e fria do amanhecer. Afaguei os meus dedos doridos. Voltei-me do avesso, apanhei os ganchos do meu cabelo e absorvi, antes de decidir, um perfume que subia em espiral de uma rosa estremunhada e de sorriso-meigo já esboçado. Da minha indecisão momentânea se aproveitou um rouxinol que debicava suaves madressilvas..., que me sugeriu que fizesse a opção pelo amanhecer e que eu fugisse a uma qualquer orquestração de ideias tricotadas num único tema. Ainda embrulhava o meu espanto nas minhas mão meninas e (espanto dos espantos!)... Sai da tua concha, vou ajudar-te porque a tua beleza me submerge, ouvi dizer o rouxinol (que lindo que era!)…, vou ser eu quem inventará para ti as palavras certas com que irás provocar o futuro. Por dentro das veredas serpenteadas dessas palavras, respondi-lhe num trilo agradecido, desenrolarei o meu fio de ouro de Ariana até ao conhecimento seguro sobre o qual as fadas decidem e provocam. Óptimo, rouxinou em trinado de conservatório natural, sai da concha que te atribuis e onde te escondes, e vive no centro dos teus verdadeiros desejos e descobre as virtudes do teu atlas vital... Rouxinol querido, pensei!

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