Uma emoção estética tem que ser política e moral, porquê?


(mensagem recebida)
Estive, meu ainda e para todo o sempre admirador de mim perfeita, estive presa em casa atarefada em teletrabalho, pandemia a quanto obrigas, cheguei cansada ao fim do dia e o que me salvou foi a incrível beleza da linha do meu horizonte água que em mim mora. Fiquei, céus, deveras atarantada quando uma imagem da deusa Atena me caiu em cima: quem ma terá atirado? Dei comigo a gaguejar e a perguntar-me: o belo não tem sentido se não for partilhado? Como diz? Diz que a deusa não se chama Atena, mas que se chama "Atana Potinija" (que significa "Senhora de Atenas") e diz que na imagem a deusa está pensativa? Que pensará ela? Em mim, em nós? Mais, diz-me que o belo tem um não sei quê de particular, que quando nos assalta uma emoção estética é ela que nos suscita o desejo de a partilhar? Até que sim, hum! Concordo que a deusa parece estar pensativa, porque será? Talvez, quem sabe, por causa das praias desertas esperando por nós dois e pelo tempo de pandemia em que vivemos. Também concordo, sim, concordo que o belo tem um não sei quê de particular, é assim como uma espécie de penas de colibri: é por isso que afirmamos “isto é belo” e não “isto agrada-me”. Sei, a primeira afirmação é uma afirmação autoritária (é um juízo do gosto, diria Kant), mas também revela algo muito generoso: a vontade de estar de acordo com os outros. Como é que é? Jura a pés juntos que pensa como eu, que é estranha a harmonia que o belo cria em nós e que nos leva a querer um harmonia com os outros, mas garante-me que está convencido que isso não significa que o sentimento do belo seja efectivamente partilhado. Olha a novidade, sei bem que assim é! Porém, no coração de uma minha emoção estética há sempre um certo élan vital que se dirige a mim, a si, a outros, a todos os outros (quiçá), um élan vital que nos diz que podemos estar de acordo perante tal beleza (no caso em apreço: a incrível beleza da linha do meu horizonte água que em mim mora), uma emoção estética alinhava os segredos da vida. Repita o que sussurrou, sério, repita, não ouvi bem. Claro que sim, isso, o que conta é mais a possibilidade de estar de acordo do que um acordo efectivo, bem que lhe pergunte: não foi Stendhal que escreveu que “a beleza não é mais que uma promessa de felicidade”? Uma promessa partilhada, diria eu que privei com o Stendhal, e esta promessa é que é bela: o belo só tem sentido se for partilhado, só assim, em solilóquios íntimos, se entende o sussurrar doce da lua cheia, o cantar de um estorninho, o voo de uma simples borboleta, o descanso de uma planta feliz no banco das horas fugitivas. Oh vida, quanto eu ainda me surpreendo consigo, que inteligente me saiu! Acredita que essa promessa de felicidade vive em nós na forma do sentimento de pertencer à mesma Humanidade, seja, que apesar de tudo o que separa e divide os seres humanos há sempre o desejo de um acordo, o desejo de uma paz e de uma harmonia. Estou mesmo em sintonia consigo, meu admirador de mim única. Neste tempo de pandemia, quando tanta estupidez solerte por aí anda à solta, as suas palavras são um lenitivo para a minha alma. Pense um pouco mais, verá que uma emoção estética, porque nos fala na possibilidade de um mundo comum, não pode ser simplesmente estética, tem que ser também política e até moral, eu o escrevo e Atana Potinija mo ditou. Fico expectante, à espera da sua resposta a uma pergunta, esta: uma emoção estética tem que ser política e moral, porquê?

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