Resplandecente dançou para mim

Lembro-me muito bem, o vestido era lindo, verde-limo; e os olhos estavam grandes, bugalhados. Usava o cabelo apanhado (perfeito), revelando uma nuca que me disturbava com um estranho poder de atracção. Ela é de facto muito bonita, elegante, fina. Tinha aquele ar seguro de si (que poucos têm e se lhes inveja), um ar que a coloca (única) entre os seres humanos de excepção. Estava sentada num sofá de almofadas brancas e vadias. Sem se voltar fez um aceno e a nuca irreal, sedosa, ali à mão. Aproximei-me vagaroso, controlei a respiração ciente do perigo e certo de que o inevitável iria acontecer. Debrucei-me para ver o que ela lia, os nossos rostos muito próximos e quase a tocar-se. Foi então que as minhas mãos (autónomas) se desprenderam, pousaram-lhe nos ombros e beijei-lhe a nuca, suavemente... Fingindo, conseguiu aparentar indiferença, levantou-se estonteante de beleza e cio num corpo curvilíneo moldado pelo extraordinário vestido verde-limo. E, deixando a nu todo o seu magnetismo, serena sussurrou: escolha a música, vou dançar para si. Cheguei a pensar que eu tinha sido acometido de um distúrbio de cabeça, excesso de imaginação só podia ser. Disse-me que não me mexesse, que ficasse sentado, que a apreciasse… Querem crer? Um sonho! Resplandecente dançou para mim.

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