Dizem que os olhos revelam pensamentos, será?

(msg recebida)

Sinceramente, isto de andar à cata dos mistérios do cérebro, leva-me a pensar e a querer rascunhar umas palavras corridas, mais que não seja para provocar (provocar é chamar a favor de) as suas/minhas memórias de mim. Percebi, concordo consigo, as memórias podem ser reformuladas como num jogo de sussurros e, assim a modos que do pé para a mão, alteram-se cada vez que recordamos, muitas vezes mais do que temos consciência. Gosto que tenha apanhado o anzol, adiante, continuo. Ontem, céus!, acudam!, quando eu revia um delicioso filme - Alita: anjo de combate - dei comigo a pensar que conhecia o génio e olhos da Alita, são tal qual os meus, os meus olhos e o meu génio jovial avesso a pelintrices. Adiante, que partida catita o meu cérebro, em pressa silente, me pregou! O meu coração bateu igualzinho ao código Morse enquanto eu, em riso descontrolado, corria para apanhar ar na minha janela de horizonte água, onde a passarada chilreava para comparar afinações. Sim, há quem diga que os olhos são a janela da alma, que revelam emoções profundas, sei que sim, sei que, mesmo que a alma não exista, os olhos não só refletem o que acontece no cérebro como também influenciam a forma como nos lembramos das coisas e dos animais e das pessoas. Como diz? Que quando se demora nos olhos da Alita, grandes e bugalhados como os meus, lhe acontece uma epifania à Proust? Que o seu cérebro ressuscita memórias de mim, ressuscita a sua experiência consciente de realidades passadas? Bingo!, o cérebro, ao longo de milhões de anos, inventou a memória para medir o tempo - o cérebro contém múltiplos relógios internos -, e hoje sabe-se que é no hipocampo que moram as "células do tempo", células do tempo que são neurónios (que não só representam momentos particulares no tempo quanto representam a localização de experiências concretas). Amanhã passado, ou num outro dia azado, irei falar-lhe do significado de um nome espantoso, Toumaí, que é o nome dado às crianças que  nascem perto da estação seca no Chade, em África. Pergunto-me: porque é que escrevi, de fio a pavio, tanto e tão diferente?, onde o fui buscar? Gosto, gosto do que escrevi, estou de bem com o mundo. Ciente que assim estou, irei, na esplanada elegante de um alfoz plantado à beira-rio, milagrar o meu dia, saboreando uma sopa rica de peixe, um copo alto de vinho branco suave e, viajando no tempo, alguns pensamentos contentes embrulhados em música e poesia.* Fim!, plim!, plimplim!

*Se tiver tempo pare aqui para pensar: "Em "A Obra de Arte do Futuro", música e poesia são antes de mais – e lado a lado com a dança – expressão do corpo, de um corpo total, não especializado, não desarticulado. Com esta concepção do corpo radicalmente determinada pela ideia de performatividade, Wagner procede a uma sensível deslocação da tradicional correlação entre os sentidos e as artes, e, consequentemente, do desenho e da compreensão do sistema das artes."(...)

Adendinha  - Pensando bem, a linguagem utilizada pelos cientistas define a memória como separada da mente, como algo que existe separado da pessoa que o recorda. Está a ver o problema? Não está!, óbvio!, que embasbacado e tosco e lerdo me saiu! Registe, para memória futura, que o cérebro não armazena e nem recupera memórias, o cérebro é memórias, ponto.

Comentários

Mensagens populares