O fluxo de informações criou e desfez o mundo


Aqui, com memória.

(mensagem recebida)
Pois sim, meu caro, fiquei assim a modos como quem viaja num barco e enjoa, fiquei assim quando dei conta do conteúdo do último livro do profeta Yuval Harari. E, sabe porquê? Claro que não sabe, mas eu digo. Digo, digo recuperando uma frase lapidar de um escritor de que agora não lembro o nome. Adiante, a frase é a seguinte: "Tenho tanta desconfiança no futuro que só faço planos para o passado". Óbvio!, claro que é uma piada, mas é uma piada para levar a sério. Ora vamos lá. O futuro é um dos principais e mais eficazes dispositivos de poder, é por isto e por aquilo, ora bicho papão ameaçador - empobrecimento e catástrofes ecológicas e afins -, ora radiante - tipo progressismo enjoativo. Em suma, nos discursos sobre o futuro, trata-se de transmitir a ideia de que os nossos pensamentos e as nossas ideias se devem orientar pelo futuro, seja, há que mandar às malvas o passado, que não pode ser mudado e como tal inútil, museu com ele, e só algum passado escolhido. Mais, quanto ao presente, dizem que devemos olhar para ele, apenas e só, para preparar o futuro. Pois é, concentre-se, nada poderia estar mais longe da verdade. Registe, a única coisa que temos e que podemos saber com alguma certeza é o passado.  Nem mais!, acabo de entrar na sua mente e, sim, é isso mesmo, o presente é difícil de  compreender e o futuro não existe, até um charlatão de meia tigela o pode inventar. Desconfie, meu caro, desconfie de quem tenta vender um futuro. "Nunca permitirei que a sombra do futuro", escreveu Ivan Illich, "se apoie nos conceitos através dos quais tento pensar o que é e o que foi". Também Walter Benjamin disse que na memória (que é algo diferente da memória enquanto arquivo imóvel) agimos sobre o passado, tornando-o (de alguma forma) novamente possível. Se uma investigação arqueológica do passado (no jeito de fazer de planos para o passado) nos pode permitir aceder ao presente, se um olhar apenas dirigido ao futuro nos expropria não só do nosso passado mas também do nosso presente? Bingo!, percebeu tudo, gosto e gosto. E gosto!

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