A propósito de... "O que é o contemporâneo?"

A aproximação à realidade depende da capacidade do observador, e até o próprio observador pode alterar a realidade. Eis porque a vida dos seres humanos é permanentemente uma série infinda de perguntas, importantes, necessárias, inúteis, corriqueiras, impertinente muitas vezes. Vem isto a propósito da imagem acima, é uma imagem que fala, seja: é possível ser lúcido e feliz. Entrando dentro da imagem, percebe-se que o "Interior de Portugal" é não só multifacetado quanto é mais, muito mais, que o outro país que vive e se alimenta dos fundos comunitários: fundos necessários sem dúvida, e decisivos para a evolução de Portugal, mas dos quais muitos portugueses estão arredados. Eis um exemplo: demoremo-nos aqui num conjunto projectos aprovados na "Região Centro de Portugal", dando especial atenção aos 132 projectos aprovados no Concelho do Fundão e cujo valor ascende 27 243 897.70 euros. Aposto no entanto, singelo contra dobrado, que a algumas perguntas impertinentes - sobre as potencialidades de cada um dos 132 projectos aprovados - as respostas seriam em grande parte neutras ou imprecisas, quiçá algumas dessas perguntas pudessem resultar em quiproquós estranhos ou em algum complicado diálogo de surdos. Sim, é verdade, os serviços públicos do Estado Local abocanham a parte de leão dos fundos comunitários. E sim, é verdade, tenho muitas perguntas a fazer, mas uma delas deixa-me com uma pulga atrás da orelha: porque será que não consegui identificar nenhum projecto aprovado que esteja relacionado com a identificação e a preservação e a valorização do património arqueológico? Acaso não sabem que, desvelando-se nas sombras do presente, todo o passado é nosso contemporâneo? Às tantas não!, que sina! 

Adenda 1

"Pode se chamar de contemporâneo só aquele que não se deixa cegar pelas luzes do século e que é capaz de distinguir nelas a parte da sombra, sua íntima escuridão. Com isso, porém, não respondemos a nossa pergunta. Por que o fato de poder perceber as trevas que provêm da época deveria nos interessar? Por acaso, a sombra não é uma experiência anônima e, por definição, impenetrável, algo que não está dirigido a nós e não pode, portanto, nos incumbir? Pelo contrário, contemporâneo é aquele que percebe a sombra de seu tempo como algo que lhe incumbe e que não cessa de interpelá-lo, algo que, mais do que qualquer luz, se refere direta e singularmente a ele. Quem recebe em pleno rosto o feixe de trevas que provém de seu tempo."  Aqui.

Adenda 2

Nem de propósito! Acabei de ter acesso a este estudo: "Territórios de bem-estar: assimetrias nos municípios portugueses".

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