A memória tem teimosias, isso tem!

 















A memória tem teimosias, isso tem! Vem esta afirmação a propósito de me ter acontecido pensar, em dia de sol quente e pachorrento, que já conhecia o largo granítico e austero aramado com videiras, oliveiras e citrinos - de uma aldeia medieval - em que naquele momento me encontrava sem nunca lá ter estado, tinha a certeza que sim, que nunca lá tinha estado. Mais. Enquanto assim pensava, ouvia perto de mim vozes que conhecia, uma voz em especial, e fiquei sem fala quando num dos diálogos explodiu a expressão "asadinha como ela!". Mais ainda. Folheei ao calhas o livro que tinha acabado de comprar e, surpresa, a imagem (acima) fez-se anunciar, ciciando em carinho inesperado e tom melífluo "mi sopiras vin". Respirei fundo e estaquei preso num torvelinho de pensamentos, mas descansei-me: calma, esta é uma situação clássica do dito "déjà vu" - a sensação de aqui ter estado (noutra vida?!) - mas, hum, esta sugestiva imagem deixa-me com uma pulga atrás da orelha e com os nervos à flor da pele, esta imagem é um tipo de "déjà vu" mais profundo, a modos que parece ser a ressonância de algo mais misterioso, é um maná verdadeiro e bom e belo, sinto-me em casa, sinto-me num sentimento que não sei pôr em palavras, "mi sopiras vin" que significará? O resto das minhas andanças pela aldeia medieval perdeu o encanto e foi sem história, mas que a memória tem teimosias lá isso tem, repito. Repito depois de já saber de fonte limpa o que é uma paramnésia e depois de já ter consultado Émile Boirac que, em 1917, escreveu "L´Avenir de Sciences Psychchiquese que também foi um destemido impulsionador do esperanto. Como? Se "Mi sopiras vin" não será uma expressão em esperanto que se diz em surdina? Isso, é isso mesmo, tal e qual assim, mesmo!

Nota

Parece não haver dúvidas que quem nega tudo o que tenha a ver com o sobrenatural, uma ou outra vez passa por alguns momentos que abalam as suas convicções. Prudente será então deixar em aberto a possibilidade de que exista algo mais e mais profundo que não está ao alcance dos sentidos. A inovação tecnológica, que aí já está neste mundo destrambelhado*, virá ajudar a perceber que sim, que existe algo mais e mais profundo que não está mesmo ao alcance dos sentidos (e nem mesmo ao alcance da nova e inovadora tecnologia, diga-se de passagem).

*mundo destrambelhado - Em certos momentos são tantas e tantas as provas de desequilíbrio e de insanidade mental que nem se sabe se a gente se deve rir ou chorar ou encolher os ombros. Diógenes tinha carradas de razão: avisado será sair à rua com uma lanterna na esperança de dar com gente de bom senso.

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