Um fio de memória e de futuro
Foi o
meu avô que me ensinou a manejar a língua portuguesa na leitura: aprendi a ler
no suplemento de um jornal, o jornal “O Século”, e antes da idade de ir para a
escola (como é que o raio do garoto aprendeu a ler tão cedo, trauteava a
professora). A escrever, bom, a escrever aprendi – tarde, mas em boa hora - aprendi com
ela, com ela a única, aprendi com e nas letras redondinhas (com traços e linhas e
pontos e curvas), aprendi a burilar conceitos e a imaginar palavras novas e letras desenhadas em guardanapos
de papel que faziam de marcadores de livros sempre que dava jeito. Assumo, foi
assim que aprendi a ler e foi assim que aprendi a escrever. Um dia quis fazer
um poema, deixei o meu avô em paz, e pensei nela. Vi as suas mãos lindas, vi os
seus olhos grandes a perguntar (os sapatos dela eram rasos, eram), e lá vai,
comecei assim: "aprecio muito a redondez do mundo, das flores, de uma pétala, aprecio
muito a tímida redondez das formas dela...". Calma, tenho que ter calma, muita calma, ela já não quer saber de mim.
Adiante, quero eu saber dela. Vou (agora) escrever nesta pedra uma palavra amor e, se a pedra sorrir, vou esconder-me no sorriso dela: sorriso dela da pedra e sorriso dela dela. Depois, ah
depois, depois vou alisar o tempo, recordar o meu avô e vou pensar muito nela. E, vida, se os
dedos (que agora sinto) forem as asas das mãos dela, posso até ficar preso num poema
a espreitar o mundo tão empanturrado dela: não me importo nada, até gosto, muito!
Adenda (mensagem recebida)
Gosto, meu caro, gosto das sextas-feiras-treze, gosto do 13. Mesmo quando aprendi de onde vinha a superstição de azar, não mudei a forma de sentir; e hoje acordei com a sensação que era ainda mais assim. E não é que acertei? Neste seu textinho (tão meu que é, é verdade, sinto-o como meu, que se há-de fazer) fala dos meus rabiscos em guardanapos de papel e de coisas que eu gosto de ouvir contar aos sete ventos; apenas lhe falta um poema afogueado pela "tímida redondez das formas dela", e faltam-lhe flores, muitas flores aos molhos, eu gosto tanto, tanto! Vai aparecer? Mesmo? Vida, acudam!
Adenda (mensagem recebida)
Gosto, meu caro, gosto das sextas-feiras-treze, gosto do 13. Mesmo quando aprendi de onde vinha a superstição de azar, não mudei a forma de sentir; e hoje acordei com a sensação que era ainda mais assim. E não é que acertei? Neste seu textinho (tão meu que é, é verdade, sinto-o como meu, que se há-de fazer) fala dos meus rabiscos em guardanapos de papel e de coisas que eu gosto de ouvir contar aos sete ventos; apenas lhe falta um poema afogueado pela "tímida redondez das formas dela", e faltam-lhe flores, muitas flores aos molhos, eu gosto tanto, tanto! Vai aparecer? Mesmo? Vida, acudam!
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