É sempre a tremer que oiço um oráculo
Como quem joga à macaca, pé coxinho e olhos atentos e mãos soltas, levei dez minutos (pausadamente) a chegar ao fim da rua. Nesta rua, trauteei, há já alguns séculos, moram memórias (a descer e a subir: ou a subir e a descer?), moram (e demoram-se) em cima (e dentro) das pedras
polidas colocadas adrede. Também nelas (inertes e também edáficas, uma delas é bússola e não o sabe) se esconde a vibração do vivo cheia de vozes e música e silêncios, dei comigo a pensar com os meus botões. Atazanei-me sem peias nem norte: tenho para mim que as pedras sabem que o real tem um reverso e uma face, mas
como é que elas sabem que o reverso não é integralmente inacessível?
Aproxima-te, disse-me a deusa de formas perfeitas, põe o ouvido na minha boca, vou dizer-te um segredo: nas trémulas sílabas das minhas palavras e na toscana claridade daquelas pedras há um jeito de a luz escorrer e um rumor que não dorme e um desejo represado e os sulcos da sede e os dias têm olhos grandes e o sol no fundo do olhar.
É sempre a tremer que oiço um oráculo.
Aproxima-te, disse-me a deusa de formas perfeitas, põe o ouvido na minha boca, vou dizer-te um segredo: nas trémulas sílabas das minhas palavras e na toscana claridade daquelas pedras há um jeito de a luz escorrer e um rumor que não dorme e um desejo represado e os sulcos da sede e os dias têm olhos grandes e o sol no fundo do olhar.
É sempre a tremer que oiço um oráculo.
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