Projectos educativos: novas bases e bases novas


Ken Bain afirmou que: "a educação é talvez a aventura humana que menos tem aprendido com o passado". (1) Entende-se, mesmo (e até) num tempo em que se espera que os cidadãos mantenham o interesse em aprender ao longo e ao largo da vida, que assim seja, que assim possa ser. Por três razões essencialmente. Uma, porque "caleidoscópio da história, dos países, das sociedades, das instituições, do indivíduo, de mecanismos celulares e mesmo moleculares, a educação tem complexidades profundas e particulares". Outra, porque os actuais sistemas educativos reflectem ainda o paradigma da instrução, segundo o qual as instituições existem para garantir a transmissão de conhecimentos; (trata-se de um paradigma que se solidificou no início do século XX e pouco (muito pouco) evoluiu). Ainda outra, porque só a última década do século XX trouxe dados de extrema importância para a compreensão dos processos e dos mecanismos inerentes à aprendizagem e que questionam o paradigma da instrução na sua essência. (2) Aparentemente, no entanto, as instituições e os agentes educativos parecem estar pouco sensibilizados para adoptarem, no delinear dos projectos educativos, as evidências das ciências da aprendizagem que se debruçam mais sobre a aprendizagem e menos sobre o ensino. (3) O desafio para a construção de novos projectos educativos passa, então e sem sombra de dúvidas, pela substituição do paradigma da instrução pelo paradigma da aprendizagem, ou seja: encontrar novas bases para os projectos educativos dentro do paradigma da instrução é mais do mesmo; mudar de paradigma é automaticamente encontrar bases novas. Bases novas que conduzem à criação de ambientes que induzam o interesse e a necessidade pela discussão, pela procura e pela integração em conhecimentos prévios de cada informação nova; "que ensinem os alunos a lidar com o mundo, promovendo a análise de situações autênticas e relevantes, para além do "exemplo do livro", e que questionem (em última análise) a organização do próprio espaço físico da aula, deslocando o Professor do centro dos autênticos processos de ensino/aprendizagem". (4) A adopção de paradigmas educativos, baseados na aprendizagem em  detrimento do paradigma da instrução, poderá originar resistências fortes e distintas? Óbvio. Do lado dos alunos que verão forçados a aprender de novas formas. Do lado dos professores que sentirão maior insegurança perante a necessidade de desempenharem novos papéis. Do lado dos cidadãos que, perante os mais pequenos contratempos, vão estranhar as alterações e questionarão com veemência a sua necessidade. (5) Bases novas para os novos projectos educativos? Claro que sim. Perpetuar o presente é uma manifestação de desprezo pelos caminhos da aventura humana ao longo de muitos e muitos milhares de anos.

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