1841 - A Casa Real da Suécia e a Casa Pia de Lisboa
“Com data de 1841, o Secretário de Estado dos
Negócios Estrangeiros recebia, em Lisboa, o pedido da Casa Real da Suécia,
solicitando vários esclarecimentos sobre a Casa Pia, nomeadamente, sobre o seu
regimento, relação de despesas e de alunos inscritos. Interessava-lhe também
conhecer o progresso dos estudantes nas “sciencias, nas Bellas Artes mechanicas,
e das vantagens que à nação tem provindo de tão útil estabelecimento”. Uns
meses antes, em 1835, Tocqueville, ao caracterizar a situação social inglesa,
escrevia sobre Portugal: “le contraire d´une société opulente, mais où la pauvreté,
massive, est à peine visible parce que c´est une pauvreté intégrée, prise en
charge par les réseaux primaires de la sociabilité paysanne ou par des formes
frustes d´assistence dont l´Église catholique est maître d´ouvre”. Entre a
representação de uma instituição que, em 1841, apesar de distante do fulgor dos
tempos iniciais, ainda se mantinha como uma referência internacional no campo das
reformas sociais, que Estocolmo pretendia reproduzir, e a visão de um país onde
a pobreza, estrutural, se diluía e confundia na penumbra de uma paisagem
dominada pela Igreja católica e por ancestrais práticas de caridade qual seria,
de facto, a situação de Portugal em termos de políticas assistenciais e de
saúde pública nas primeiras décadas do século XIX? Sobre que memórias teria a
Suécia – um país onde a vacinação contra a varíola e a formação das parteiras
se tinham tornado obrigatórias no início do século XIX, o tratamento das
doenças venéreas era financiado pelos impostos e começava a implantar o ensino
primário à escala nacional – construído a sua percepção sobre a Casa Pia de
Lisboa, ao ponto de referenciar Portugal como modelo de “boas práticas”? Noutro
sentido, que formas concretas assumia o apoio social da Igreja e as redes
primárias de sociabilidade, referidas por Tocqueville? Estaria assim tão
cristalizado o sistema nacional, como é sugerido pelo autor francês?" (…)
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