Helder Batista: a arte de um ver mais profundo

Helder Batista
Recordar o excelente Helder Batista também é destacar a sua vastíssima obra (por este Portugal e por esse vasto mundo fora espalhada) nos domínios da medalhística e da escultura... Acontece que Helder Batista foi aluno da Casa Pia de Lisboa, e foi o escultor escolhido para conceber e realizar o monumento a Pina Manique, inaugurado em 3 de Julho de 1990, no Restelo, em Lisboa. Hoje, quando melhor conheço o significado e o alcance do legado de Pina Manique, a Lisboa e a Portugal, melhor sei apreciar o texto que, a propósito da sua "obra escultórica referida a Pina Manique", Helder Batista escreveu..., texto que foi publicado na "Revista da Casa Pia de Lisboa, nº 5, Junho de 1990". Assim:

Alguns dados antecedentes
Diogo Inácio de Pina Manique fundador da Casa Pia de Lisboa e do Colégio Português das Artes, em Roma, assumiu, com força polémica, o encargo de atacar a desordem, corrigindo males endémicos, e de (simultaneamente) desenvolver meios de produção, numa obra multifacetada que se estendeu à infância, à juventude desacolhida, aos necessitados de apoio educativo. Obra multifacetada, de facto controversa mas sólida, nesse conjunto de iniciativas que envolve aspectos relativos à cultura, ao acolhimento e formação de jovens, à própria consolidação do teatro de S. Carlos - obra que pode imaginar-se, em suma e no seu todo, como um bloco ordenador de sentidos, decisivo, monumentalizado pela História, apesar de discutido, segundo a perspectiva de análise, pela crítica de muitos homens de ontem e de hoje.
Alguns dados sobre a escolha plástica
A obra escultórica dedicada agora a Pina Manique - e de que este memorando é notícia prévia - parte conceptualmente daquela imagem de bloco, uma totalidade integrada e integrante de referências várias. Pina Manique emerge desse bloco, sobretudo com a identidade reconhecível do seu rosto voltado para os olhares de uma amanhã que passa, e, ao mesmo tempo, plasma-se, grandioso, na maior grandeza do edifício que ajudou a construir. A figura assim humanizada, embora institucionalmente situada, ganha a posteridade entre a distância da memória e a força determinativa do do poder. É um símoblo político e o regente de vontades criadoras a que terá de conferir ordem significante. O que se concretiza á sua volta só é possível pela intensa vertical dessa presença decisiva: são (em particular) os elementos nomeados plasticamente à esquerda, pequeno caos de supostas abstracções que, no aspecto diverso, tende para a ordem e para a unidade no equilíbrio das próprias tensões, génese de uma nova ordem oferecida à sociedade pelo homem que as tutela desde início: Pina Manique. Pina Manique que emergente do lado  final do nosso olhar panorâmico e que concentra a ideia de síntese ordenadora, que desprende para o futuro a sua visão enfim decidida e alargada. Ele vive no espaço físico e conceptual da sua obra, destaca-se dele mas nunca o abandona, já não é reconhecível num outro contexto, o da História, senão ligado aos factores que conjuga sobre todas as contingências.
Alguns dados sobre integração
A integração da peça no local tem em vista estes factores de leitura, num destaque necessário e complementar da realidade de hoje. Trata-se de uma solução que não quer confundir-se com a estatuária da personagem sem referências: aqui, entre dados informativos interculturais, o espectador é impelido a estabelecer uma leitura activa, num espaço bem determinado onde as conotações de reconhecimento e invenção abrem olhares à condição de um ver mais profundo.
Helder Batista

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