Há limites!
Tenho sentido (aqui mo meu coração de vidro) a sua
falta, meu caro… Desculpo-o porque sei o que se passa consigo, e (ao invés de
si) sei qual é a assunção rígida (talvez eu devesse dizer mole) que bloqueia o
seu potencial criativo. Assim se me dirigiu, com olhos de desculpar má
educação, a desaparecida fada (muito eu gostaria de saber por onde ela tem
andado, divertida ou zangada, tanto faz, a espalhar a sua inteligência criativa
pelo universo fora…). Respondi-lhe que duvidava que ela soubesse o que se
passava comigo, duvidava mesmo (que raio quer ela dizer com assunção rígida?!). Ai não sei? Claro
que sei, a voz dela era clara e
segura, até sei porquê e (pasme-se!), até conheço as origens remotas do seu mal-estar.
Diga-me se, desde o fim do dia da quinta-feira da semana passada, não sente: abatimento, cansaço, alterações de
concentração, nervosismo e insónias miudinhas. Sinto, sinto, respondi, mas esses são sintomas não
específicos que podem ter origem em diferentes problemas, e eu até penso que descortino quais sejam. Olha para ele, soprou
as palavras para o ar, olha para ele a tentar dizer que o seu problema são saudades
de mim…; meu caro, se pretende saber se eu conheço os sintomas específicos do
seu problema, aí os tem: náuseas, gases
abdominais e flatuências, diarreias ácidas, fezes pastosas e flutuantes e
defecação explosiva. Sim, reconheço, estes são os sintomas específicos, não pude
deixar de concordar; mas então qual é o meu problema, perguntei com ar apressado. Tem razão para se apressar, gargalhou sem cerimónia e a bandeiras despregadas, vá indo depressa que,
depois de aliviado, falamos sobre as origens remotas da sua intolerância à lactose…; e não se aflija muito mas olhe que os efeitos só minoram dez/quinze dias passados e vão continuar a afectar o seu potencial criativo (está agora a entender porque é que uma assunção rígida pode ser mole?)... Tão aflito, tão envergonhado e tão surpreendido fiquei, que só quando a vi com dedos finos a apertar o narizinho arrebitado, é que tive
consciência do que me tinha acontecido e que aqui não conto… Minutos passados, sentei-me perturbado e atento, para a ouvir dizer
que foi na falta de coordenação de movimentos e de prevenção (das pessoas com
intolerância à lactose) que nasceu o verbo borrar..., que a partir daí, se passou a utilizar em
situações diferentes, por exemplo, explicou-me, "borrar a pintura nos meus olhos grandes de tanto agora me rir com a sua atrapalhadice". Curioso, e não é difícil saber porquê, quis saber o que é que a levou a dizer que o meu problema é a intolerância à lactose..., enquanto, de soslaio, a olhava de curvas soltas e cabelo apanhado (que linda que é!). Não se fez rogada. Estive com uns excelentes amigos meus, começou, que me falaram e me mostraram o retrato robot do "homem La Braña 1" e me garantiram que há uma interconexão em todas as coisas como se o universo inteiro fosse um ser vivente; fiquei vidrada (olhe a surpresa a escorrer líquida nos meus olhos grandes!) quando os ouvi dizer que esse homem do Mesolítico, terá vivido em León, na Espanha, há cerca de 7000 anos: era caçador-recolector e tinha a pele escura, olhos azuis e intolerância à lactose... Eu sou o "homem de La Braña 1"?! Foi mesmo o que ela quis dizer?! Foi mesmo?! Há limites!
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