E o robot sou eu?! Ai se a apanho a jeito!
Imagine só, o que ontem
me passou pela cabeça! Nem que desmanchasse parte dos seus neurónios se
aproximaria do meu pensamento. E, olhe que foi esta sua rotina de escrever (manhã adentro e fora de horas) que provocou a minha mente excepcional… Com três frases (e qualquer
delas a poder servir de mote para escrever duas páginas), se aproximou de mim
(mas que convencida, mente excepcional, tinha que ser!), pé ante pé, a única fada que sabe
sempre encontrar uma forma de me excitar. Nem que eu desmanchasse os meus
neurónios?! Perguntei-lhe. Quente, quente, quente, meu caro, eu sou mesmo inteligente, suspirou,
com os olhos grandes à procura de lugar cimeiro para pousarem. Repare, continuou, que não só pensei
em si quanto fiz uma pergunta (claro que eu já sabia a resposta inteirinha) ao meu
excelente amigo Oussama Khatib e que me respondeu de imediato: no futuro, os seres humanos viverão e
trabalharão como robots. Era só o que faltava, interrompi, para que entre mim e si "o caldo se entornasse": ou estou
louco ou acabei de a ouvir chamar-me robot antes do tempo. Adoro, adoro, adoro,
essa sua ideia de se chamar robot antes do tempo, disse e riu-se feliz, enquanto brincava com os “adoros” como quem
brinca com balões coloridos tal e qual “Anita no recreio”. Tu queres ver, matutei comigo, que ela pensa que eu sou
um robot e que a única (pouca) inteligência que eu tenho, é apenas inteligência artificial?!
Isso, isso, isso (ela não cabia de contente), meu caro, atirou-me. Foi exactamente isso que o meu amigo Oussama me
garantiu: que poderia acontecer que a sua mente seja inteligência artificial e que o seu corpo seja um robot.
Não acredito, removi-me por dentro aos trambolhões; e, com tudo caído, perguntei-lhe
se também era o que ela tinha imaginado que eu sou de facto: um robot dotado de inteligência
artificial. Linda de viver, olhou-me, pediu-me que a ouvisse com atenção e ditou, delicodoce: eu apenas brinquei um pouco consigo quando falei em desmanchar os seus neurónios (desculpe, desculpe, desculpe), sei bem que a sua inteligência não é artificial; e também sei que não é um robot mesmo que seja preciso e cuidadoso naquilo que faz e diz. Fiquei amuado e disparei de rompante: que raio de pensamento lhe passou então pela cabeça a meu respeito? De beicinha, esta agora, ora a minha vida! Exclamou. Deixe-se de amuos, eu só perguntei ao Oussama se um robot podia ajustar as suas acções de forma rápida, utilizando o ouvido, a vista e o tacto para interactuar nos momentos únicos e mágicos que eu cá sei... E?! Voltei a insistir. E, meu caro, pense (fixamente) na minha cara de entendida, que lhe parece! Não me parece, nada de nada, retorqui, explique-se, por favor. Com um ar aflito que eu lhe não conhecia, apressou-se de mãos trôpegas e vadias, e pediu-me, rindo-se a bandeiras despregadas: por favor, cubra-se, ou terei que pendurar o meu fabulástico gorro de inverno nesse seu apêndice alongado... Eu (atoleimado de calor) ainda a ouvi atirar ao vento (tenho a certeza) que passava: que lindo que é um robot de apêndice feito... Um robot de apêndice feito? Até o vento se riu, garanto! E o robot sou eu?! Ai se a apanho a jeito!
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