"Nos tenemos muitos nabos..."
É um país "à beira mar plantado" que, desorientado (sem bússola e sem norte), se perdeu de si próprio nos trilhos da sua já longa vida de quase novecentos anos de história. Há dois anos atrás, aprendeu (à sua custa e para sua desgraça) o que significa acreditar que "qualquer coisa é melhor do que o que está". É um país que, no entretanto (não conformado), já saiu várias vezes à rua para se fazer ouvir e percebeu que lida com uma estranha e nativa espécie de políticos surdos, autistas e servos de credores estrangeiros. É um
país que vê o défice orçamental a galopar (10,6% no primeiro trimestre de 2013); e é um país que sente os níveis do desemprego previsto (pelos políticos no governo) a tocar os 19% no fim deste ano. É um país que olha acabrunhado para a dívida
soberana nos 127,3% do PIB e que não entende os juros quase nos 8% nem a recessão estimada em 2,3%. É um país que terá um encargo médio anual 18 mil milhões com juros, após 2014. É um país em que uma enorme maioria de pessoas tristes, lutadoras e zangadas (e sem horizontes de futuro) que empobrece todos os dias (também os níveis de pobreza infantil raiam o absurdo), tem todos os motivos (e ainda mais um e mais um ainda), para perguntar se a democracia pode dar nós que ninguém sabe desatar. É um país onde é difícil denunciar a falta de autenticidade dos políticos referidos nesta entrevista. ((Leiam-se os programas eleitorais e contrastem-se com as realizações (ou falta delas!) depois do acesso "ao pote do poder")). É um país onde é difícil perceber que a irresponsabilidade política (nestes dias tão visível), em democracia, se resolve, com toda a naturalidade, através de eleições desde que no tempo certo. É um país em que o país da comunicação social não é o país em que as pessoas vivem. É um país em que, com a sorte e o azar enredados em zangas sem fim (a gente pouco sabe pouco pode - numa frase lapidar de M. Torga), podemos exercitar um sorriso, ainda que embrulhado em fracas expectativas de um futuro saudável, ouvindo cantar em mirandês (umas das três línguas oficiais portuguesas):
- "Nos tenemos muitos nabos a cozer numa panela".
- "Nos tenemos muitos nabos a cozer numa panela".
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