Crise escondida com eufemismo de fora

A solução encontrada pelo Presidente da República para resolver a actual crise política, foi dar o seu aval ao actual governo até ao fim da legislatura:  é uma solução que é uma “mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma”. É uma mão cheia de nada porque a decisão é essencialmente “para troika” e mercados verem e com dois objectivos: mostrar que há previsibilidade na governação de Portugal a curto e médio prazo e que as instituições funcionam regularmente; é uma mão cheia de coisa nenhuma porque um segundo ciclo deste actual governo (ciclo de políticas activas de crescimento económico) só acontecerá (se acontecer...), após Junho de 2014. É ainda uma “mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma” porque vai ser necessário negociar (a muito curto prazo) um novo resgate (?), por enquanto ainda eufemisticamente baptizado de programa cautelar. Acontece que para negociar (no mínimo que seja) um programa cautelar, vai ser sempre necessária a participação activa (e de compromisso) do partido socialista. Assim sendo, a legislatura não terá condições para chegar ao fim e, consequentemente, as eleições antecipadas irão acontecer, inevitavelmente, em Maio de 2014… E é muito previsível que assim aconteça: a situação social continuará a agravar-se a par e passo; o ainda aparente regular funcionamento das instituições tenderá a degradar-se após as eleições autárquicas de Setembro próximo; a credibilidade deste governo (remodelado ou não, não interessa) está desfeita e gasta aos olhos dos portugueses e não é reciclável... Finalmente, registe-se a originalidade de um governo (que resultou de eleições livres) passar a ter uma dupla tutela efectiva, dos credores e do Presidente da República (que já anunciou a apresentação de uma moção de confiança na Assembleia da República!). É uma originalidade portuguesa, concerteza!

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