Darwinismo e Esquerda
Peter Singer é um autor que habituei a visitar e a revisitar.
Num dos seus livros “A Darwinian Left” (Yale University Press,1999) faz uma interessante ligação entre Darwinismo e a Esquerda em política. Começa por afirmar que o Darwinismo tem sobretudo inspirado a Direita e não a Esquerda, no sentido em que a noção persistente do mais apto parece ser mais compatível com a situação de um mercado livre capitalista do que com um sistema socialista.
Porém, clarifica Peter Singer, os últimos desenvolvimentos da teoria da evolução ensinam-nos que ser o mais apto não significa necessariamente ser o mais forte na luta pela vida: uma melhor aptidão também pode resultar de um melhor capacidade para cooperar; e insiste, dizendo que "temos hoje uma visão mais científica e mais completa do que é a natureza humana".
Assim sendo (na sua opinião), a Esquerda deve reexaminar a concepção de natureza humana que ainda sustenta o seu pensamento. Desde Marx (e mesmo antes) a natureza humana não era entendida como algo fixo: o comportamento, os traços psicológicos de um indivíduo variavam de acordo com as circunstâncias sociais (na perspectiva de Marx segundo os modos de produção). Esta tese, assim traduzida - o ser humano não deixará de procurar um estatuto mais elevado quando se muda a organização económica da sociedade -, não é mais defensável: certos traços, determinados comportamentos humanos são invariantes, já deixámos de ter dúvidas. Assim se prova que é perfeitamente ilusório pensar que a eliminação do capitalismo é suficiente e bastante para construir uma sociedade socialista a que a Esquerda parece continuar a aspirar.
Mas, alerta Peter Singer, a Esquerda não deve renunciar aos seus valores; e esta é, em síntese, a mensagem deste livro: deve a Esquerda, isso sim, integrar a nova visão da natureza humana que nos liberta da teoria da evolução e deve repensar os meios para promover os seus valores, tendo em conta novos factos e factos novos.
Um livro muito interessante e ainda actual... Para ler ou reler!
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