Ansiedade

Vivemos um tempo de crise multifacetada que acentua a ansiedade ancestral que nós, seres humanos, transportamos connosco desde tempos imemoriais. Trata-se (parece) de um regresso à selva original e primitiva onde nos sentíamos permanentemente ameaçados. Viver com a ansiedade à flor da pele e todos os dias, causa danos no cérebro no sentido em que torna crónica uma situação que apenas deveríamos viver pontualmente e em situações muito específicas.
Porém, a plasticidade do cérebro é algo que ao cérebro confere um poder imenso; incluindo o poder de inventar maneiras e formas de aliviar essa maldita espécie quotidiana de toxidade mental, diariamente alimentada por uma comunicação social pouco sábia e, bastas vezes, miseravelmente incompetente.  A plasticidade cerebral activar-se-á melhor, por um lado, se soubermos centrar-nos no presente sem a angústia do que não sabemos que irá acontecer; e se, por outro lado, deixarmos de ver os problemas enquanto tais e os conseguirmos ver como oportunidades para mudar: o importante é agir, flexibilizar, redescobrir quem somos e estar atentos a pessoas e coisas que sejam diferentes.
Afirma R. Llinás que vemos com o nosso cérebro e não com os olhos, que a imaginação activa os mesmos circuitos neuronais que a percepção e, afirma ainda, que a sensação de individualidade não é mais que uma invenção do cérebro para nos tornar a vida mais fácil, atraente e criativa. Assim sendo, se temos um único corpo e uma única identidade genética, não temos uma única identidade mental; títeres de um cérebro com diversos estados funcionais que até (podemos dizê-lo) representam diferentes personalidades num mesmo indivíduo, sabemos que a boa ou má gestão da nossa inteligência emocional pode determinar o êxito ou o fracasso na nossa vida.
Sendo assim, nada melhor que ter consciência que a ansiedade perante o desconhecido, neste tempo de crise, não só é algo que nos é natural quanto faz parte da nossa capacidade de enfrentar o medo e de nos adaptarmos ao novo e ao diferente.
Há que tirar partido da ansiedade: uma nossa humana vantagem!

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