O monólogo do criador individual

O monólogo de um criador individual é o resultado visível de ele estar na encruzilhada certa; contém em si próprio, mergulhado num fluxo de informações que a vida lhe facultou e vai oferecendo, a capacidade de captar os sinais do futuro; o seu monólogo solitário é na realidade um diálogo e uma polémica permanente que exploram e combinam o saber e a sensibilidade dos olhos e dos ouvidos dos outros.
Mesmo que (e às vezes isso acontece!) esteja isolado no seu refúgio, um criador individual não abandona a praça pública e não desiste de olhar para longe, não abdica de deixar de sonhar e de explorar o futuro: é como um organismo, atento, ágil e vigilante. E, porque tem consciência que a criatividade tende a cessar quando a vontade da excelência abranda ou aparentemente se esbate, também, por mais estranho que pareça, sabe lançar os búzios e explorar a sorte; mas a verdade é que nunca desiste de tentar descortinar (em diálogo cúmplice e continuado com o seu alter ego) os segredos que a vida esconde; porque acredita que Vontade e Destino (Moira em grego) são as duas faces da mesma moeda com se compra o ténue fio com que a vida se tece e nos acontece.
Ele tem a certeza que quando não se enfrentam desafios, quando a táctica prevalece sobre a estratégia e quando a burocracia se sobrepõe à inovação, a mediocridade substitui a criatividade (o que nos dias de hoje, em Portugal, se sente "à vista desarmada"). A mediocridade, mãe do hábito enraizado, do espírito de rebanho, do gosto fátuo da moda e da promoção dos inúteis, também é um álibi para explicar a falta de espírito crítico em tempo de criatividade escassa.
Mas o criador individual não se resigna e marca a diferença. E de que é que depende essa diferença? Da capacidade de correr riscos, da capacidade de se pôr em causa a si próprio, da capacidade de recomeçar, da capacidade de não ter medo da novidade e da capacidade de não abrir mão do seu segredo.
No seu segredo mora o futuro!

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