CRIATIVIDADE rima com SERENDIPIDADE

As escolas matam a criatividade?
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Sete notas...
... a propósito de uma conferência de Ken Robinson “ As escolas matam a criatividade?”
«Un enfant de 5 ans comprendrait ça! Allez me chercher un enfant de 5 ans!» Groucho Marx                                                                                                                                                                   
1. Perto de Ceilão, havia uma pequena ilha chamada Serendip.
Viviam lá três príncipes que, por estranho sortilégio, descobriam sempre o que não procuravam. E, cada descoberta que faziam, nunca teria acontecido se eles tivessem seguido um método coerente. Esta é uma pequena estória contada pelo historiador inglês Horace Walpoler em 1754 e retomada por Louis Pasteur que explicava as descobertas científicas dizendo que “o acaso apenas favorece os espíritos preparados” e, ainda confirmada por Hideki Yukawa, cientista premiado com o Nobel de Física, quando afirmava que “qualquer descoberta comporta sempre algo de imprevisto”.
2. À medida que ia ouvindo a conferência de Ken Robinson, esta pequena estória ia fazendo sentido. Desde logo porque com apenas dois conceitos a tiracolo (inteligência e criatividade), Ken Robinson conseguia (des) construir os actuais sistemas educativos. Ora porque esclarecia como a inteligência é “diversa, dinâmica e distinta” ora porque afirmava que a criatividade é inata e que alguns humanos “precisam de se mexer para pensar”. Ora ainda porque considerava de primordial importância o papel da criatividade (o acto de descobrir ou inventar coisas novas que têm valor) no desenvolvimento cérebro. Nada (ou quase nada disto) é considerado pelos actuais sistemas educativos -  filhos e herdeiros do século XIX. Os exemplos (destaco o exemplo incarnado da música e da dança) que de forma criativa ia apresentando e a forma afectiva (rir também é comunicar e rir de si próprio é saudável) como conseguia envolver a plateia, não deixam dúvidas: criavam um ambiente favorável “aos espíritos preparados”.
3. Creio não haver estudos estatísticos que permitam avaliar os resultados da serendipidade. No entanto, é verdade que hoje a indústria dos medicamentos deve muito ao talento de alguns cientistas que encontraram o que não procuravam (foi, por exemplo, ao procurar parar as hemorragias que Marc Lean descobriu o efeito anticoagulante da heparina). A psiquiatria, essa então, devia mandar erigir um monumento à serendipidade: os anti depressivos abriram um enorme mercado porque um cirurgião especializado em tuberculose óssea teve o enorme mérito de perceber os efeitos eufóricos que produzia, secundariamente, o medicamento que ministrava aos seus doentes.    
4. Por isso, entendo que a estória dos três príncipes até poderia fazer parte da conferência, no sentido em que é uma estória que comporta parte dos diversos ingredientes com que a conferência foi “cozinhada”. (Nunca imaginei quão interessante e curioso (na sua relação com a constituição e funcionamento do cérebro) pudesse ser o acto de estrelar um ovo, recordam-se?). Por duas razões podia fazer parte da conferência: quer porque, simbolicamente, remete para uma nova ecologia humana, quer porque aponta para a existência de inteligências múltiplas a considerar na educação e no mundo actual. Mundo (creio que esta podia ser uma das conclusões da conferência (se é que podemos falar em conclusões)) onde cada vez mais é necessário desafiar os sistemas educativos não só a considerar os seres humanos mais novos como “sondas que mandamos para o futuro” (daí que eles devam estar suficientemente apetrechados porque não se conhece o manual de instruções do futuro) como a incentivar os seres humanos mais velhos, alguns que, muitas vezes, apenas utilizam o corpo para transportar a cabeça, a potenciar as idades de vida com a ética da responsabilidade.
5. Ao ouvir e ver Ken Robinson confirmei que não conheço suficientemente bem os caminhos da (des) construção dos quereres, dos poderes e dos saberes…Também por isso, a conferência me surpreendeu e me deixou parado... Pensando por exemplo nos resultados (para a vida e para o planeta) da extinção dos insectos ou da extinção dos humanos…Será possível que os resultados sejam aqueles? Tão diferentes? Cada vez mais acredito serem os caminhos que a vida nos mostra os que devemos aprender a percorrer, a pé ou conduzindo sempre com a precaução devida com especial cuidado em lombas ou em curvas apertadas onde sem darmos por isso, nos pode aparecer uma qualquer teoria científica ou mesmo algum estranho “poema científico”. Mas quem sabe se quando pararmos para descansar do susto, não aparece alguém que nos ajuda a descobrir que a natureza tende a organizar os opostos, da mesma forma que a música que nasce da lira resulta das tensões entre as cordas e a madeira…Quem sabe?
6. Devo confessar. Eu fico sempre com dúvidas quando vejo e oiço falar com tanta certeza no cérebro, no papel e na importância do cérebro…é nessas alturas que tenho a confirmação de que a vida é feita de paradoxos: se penso o cérebro com o cérebro quem me garante que ele não me engana?
7. Os três príncipes descobriam (ou inventavam?) coisas novas porque sabiam nadar nas águas azuis daquela estranha ilha perto de Ceilão que, a partir de agora,  podemos considerar que existe e que existe onde mais gostarmos de ir, discretamente… Como quase tudo o que tem a ver com a poesia (que é criação, por excelência).

Querem apostar que a vida mora numa ilha estranha e bonita que se chama Serendip e que um dos guias dá pelo nome de Ken Robinson? 

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