Variações soltas à roda do sorriso de Demócrito


Claro que sim, concordo, concordo que, nos dias que correm, faz muita falta a filosofia. E não é que cada vez mais concordo? Recordo agora (à Proust) um ditado que utiliza como admoestação e com severidade à mistura, este: "não sabes nada da vida". Acatar a opinião alheia é por vezes difícil, mas se essa opinião vem de alguém que temos em apreço, muitos anos depois aquele "não sabes nada da vida" ressoa na nossa memória em momentos-chave. Aconteceu-me ontem quando me confrontei com uma pintura (1746) de Antoine Coypel que desvela o sorriso de Demócrito de Abdera (460/330 AEC). Ora acontece que o sorriso de Demócrito (um dos fundadores da ciência moderna) não era o reflexo de uma vida feliz, era tão só a forma inteligente que ele encontrou de se evadir da incompreensão do mundo em que lhe coube viver. Se hoje ainda fosse vivo (tendo presente a sua importância para a ciência) todos daríamos a devida importância ao seu sorriso. Adiante. A quem não consegue atinar com o que lhe acontece na vida (porque é que a vida por dá cá aquela palha lhe troca as voltas), pensei comigo, sobra sempre a possibilidade de treinar o sorriso de Demócrito, às tantas resulta.

Adenda
Em dia de greve dos professores, vem mesmo a calhar.

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