As ideias estão (mesmo) ligadas à experiência corporal individual


















Não conhece ainda a cidade de Thun? Thun, meu caro, é uma pequena e pitoresca cidade suiça cortada a meio por um rio cor verde esmeralda (a cor verde esmeralda é a minha cor preferida, sabe pois não sabe?), tem castelos medievais e os Alpes são paisagem de cortar a respiração, há até quem diga que é uma cidade preferida das fadas inteligentes. Que tenho eu com isso? E a imagem projectada na parede do meu quarto: que tem ela a ver com essa cidade? Interrompi, sem cerimónia, a voz que me acordava. Bem, respondeu, a imagem é de um quadro de Macke que nos dá uma visão diagonal de um passeio coberto em Thun, uma das antigas arcadas com lojas e montras de vidro onde estão expostos artigos de cores luminosas. Nos dá?! Cortei-lhe rente o discurso. E ela: nos dá sim, a si que agora está a ver uma cópia do quadro e a mim (sou eu, está bem de ver, que estou à direita, esguia, levando uma sombrinha e observado os chapéus expostos), e a mim (repito) que recordo agora o início do mês de Fevereiro de 1913 quando o Macke me ofereceu o quadro. Um pouco atarantado e anestesiado q.b., lá fui dizendo que sim, que já tinha ouvido dizer que nas obras de arte viajam segredos, mas que nem tanto ao mar e nem tanto à terra, que há limites. Como queira, retorquiu ela, pense o que pensar, diga o que disser, sou eu que estou na origem daquele quadro, aquele quadro é uma metáfora de mim. Uma metáfora é um tipo de perfume embriagador, é um recurso da sua imaginação poética, certo? Errado, trauteou, as metáforas surgem da experiência corporal humana, a que dão forma, seja: os corpos e a sua localização no espaço são fundamentais para a vida de pensamento consciente e para a linguagem. Ouvi-me a perguntar-lhe: que evidência empírica tem de que o corpo é mesmo crucial para o pensamento e para a linguagem? Homessa, essa agora!, exclamou risonha e divertida, e disse pausadamente: conheço bem os resultados dos estudos sobre  "linguagem e metáfora e cérebro", ninguém pode pensar sem o corpo e as ideias estão ligadas à experiência corporal individual, é sempre na cara que se lê o que vai no coração, já ouviu falar em qualidade táctil da metáfora? Acordei naquele preciso momento, recordei, e: tinha que ser, foi-se embora sem aceno de despedida!, qualidade táctil da metáfora?, raio de busílis, terei ouvido bem?, às tantas sim, que guicha ela é!, que raiva!, tanto e tanto (e quanto!) a conversa me estava a agradar!, é sempre assim, qual o motivo?, a cada um a sua cruz, mas não é justo!, sina cigana!

Adenda a propósito de..., (e que vem mesmo a calhar!): aqui.

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