Entre a imagem, o sonho e a escrita: há o tempo e há a memória...

















Podemos andar anos à procura de uma coisa simples (alô, Heidegger!), as coisas simples são as mais importantes, e, quando menos se espera, uma coisa simples aparece e marca a presença do Ser. Vem isto a propósito da imagem acima: mostra um corpo-rosto perfeito, que emerge na areia-água de uma praia-areia-mar. A circunstância (praia/areia/mar) tem mistério, mistério têm as linhas e as sombras do altivo rosto humano (de beleza nacarada), tem mistério o brilho do cabelo preto e mistério tem o ombro nu banhado por uma onda suave e carinhosa. Este múltiplo pensamento visível coloca junto de mim um raro momento do passado incompatível com o presente, este: Ava Gardner na praia. 

Impossível, não é Ava Gardner na praia. Para desvendar um outro nome recorri à memória que no cérebro mora no hipocampo (o centro da memória de longo prazo): a memória proustiana do olfacto e do paladar (confirma a neurociência que o olfacto e o paladar são os únicos sentidos sentimentais e a sua marca é indelével). E concluí: óbvio, o ser humano que emerge naquela praia-areia-mar é admirável, tem estilo, tem carácter, é inteligente, pensa, suspira, canta, reza, chora, ri. Sei que o seu nome é "o lugar onde o passado, dotado de um secreto heliotropismo, se dirige para um sol que emerge no céu da história e esse passado é uma imagem da simultaneidade do tempo da experiência, do que aparece para logo desaparecer, como um relâmpago" (W. Benjamin dixit). Mas, mais ainda: o seu nome não será desvelamento que destrói os mistérios, será isso sim uma revelação que lhes fará justiça. Qual, qual é o seu nome?

Adenda 

Em consequência: um nome (com memória e memória música a tiracolo) pode transformar-se facilmente numa revelação.

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