Duas acutilantes mensagens-sentenças torguianas

 













Em 10 de Março de 2016 escrevi (aqui) assim: 

"Andarão distraídos, em Portugal, os especialistas em teorias da comunicação? Parece que sim (ou talvez não!). Mas, tão distraídos andam (alguns) que ainda não terão tido tempo para ler uma das melhores partes (quiçá a melhor parte) do discurso. Aquela em que também o actual Presidente da República se terá visto ao espelho, e onde (não custa acreditar) solidificou a sua vontade de querer ser o Presidente de todas e de todos os portugueses, de querer ser o Presidente de República Portuguesa, de querer ser o Presidente de Portugal: em tempo de crise (social, económica e financeira), em tempo de urgente regeneração política (nacional e europeia) e em tempo (cíclico?) de uma crise humanitária mundial. Qual é essa passagem do discurso? A seguinte, esta: "Mas a resposta vem de um dos nossos maiores, Miguel Torga. Que escreveu em 1987, vai para trinta anos: " O difícil para cada português não é sê-lo; é compreender-se. Nunca soubemos olhar-nos a frio no espelho da vida. A paixão tolda-nos a vista. Daí a espécie obscura de inocência com que actuamos na História. A poder e valer, nem sempre nem sempre temos consciência do que podemos e valemos. Hipertrofiamos provincianamente as capacidades alheias e minimizamos maceradamente as nossas, sem nos lembrarmos sequer que uma criatura só não presta quando deixou de ser inquieta. E nós somos a própria inquietação encarnada. foi ela que nos fez transpor todos os limites espaciais e conhecer todas as longitudes humanas... Não somos um povo morto, nem sequer esgotado. Temos ainda um grande papel a desempenhar no seio das nações, como a mais ecuménica de todas. O mundo não precisa hoje da nossa insuficiência técnica, nem da nossa precária indústria, nem das nossas escassas matérias-primas. Necessita da nossa cultura e da nossa vocação para o abraçar cordialmente, como se fosse o património natural de todos os homens.

Hoje, dia 16 de Novembro de 2020, já com uma crise humanitária mundial instalada (uma crise humanitária que em Portugal faz mossa da grande e deixa à mostra muitas e graves insuficiências políticas e põe ao léu em ror imenso de debilidades estruturais na vida social e económica e cultural), e já também em tempo de novas eleições presidenciais em Portugal, talvez valha a pena ouvir Miguel Torga dizer: "É um fenómeno curioso: o país ergue-se indignado, moureja o dia inteiro indignado, come, bebe e diverte-se indignado, mas não passa disto, falta-lhe o romantismo cívico da agressão. Somos, socialmente, uma colectividade pacífica de revoltados."

A bom entendedor...!

Nota: ... para melhor entender "o que por aí anda".

Adenda (mensagem recebida)

Li, concordo com o que pensa e escreve, lembrei-me do nosso excelente Sá de Miranda quando traduzia a alma do povo português, assim: "Não espera razões tudo é respeito/tudo soberba e força; faz, desfaz/ sem respeito nenhum e quando em paz/cuidais que sois, então tudo é desfeito."

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