Registe: uma pergunta bem feita é mais que a metade da resposta

 
















(mensagem recebida)

Ainda não, ainda não estou, ainda não estou em mim depois de ter escarafunchado e lido e relido o PS (eh! eh! eh!, gosto do trocadilho) do Gilles Deleuze. A lucidez atingiu-me como um raio, a luz brota do texto e vi o cenário actual em que vivemos de uma maneira ainda mais clara. Mas não é disto que hoje lhe quero falar. Estou no meu terraço com horizonte-água e aromas de rosas circulando no ar húmido do veludo violeta da manhã dilatam-me as narinas, deuses, gosto, adiante que a minha xícara de chá me espera. Pois bem, atente na imagem que lhe envio, ilustra campos eletromagéticos neuronais. Porque é que a escolhi e lha envio? Resposta simples: quando li aqui o resultado de uma investigação de Johnjoe McFadden, bati com a mão na testa e belisquei-me (ui a suavidade-cetim da minha pele!) enquanto maravilhada perorava comigo: diabos me levem, como é que eu já o sabia? Abreviando, o que o John Fadden quer provar é que o dito dualismo (em que filósofos e cientistas e teólogos e místicos e outros queimaram as pestanas para desvendar o mistério de como é que a matéria se torna consciente e pensa), seja, o dualismo - a existência de matéria e alma - tinha pernas para andar. Bastava tão só, substituir a alma por energia: não matéria e alma, mas sim matéria e energia. Vai daí, não esteve com meias medidas, mandou o monismo - tudo é matéria - dar uma volta pelo edifício imenso da memória, e fez uma investigação minuciosa, concluiu assim: "Creio que o mistério - como é que a matéria se torna consciente e pensa - está resolvido, dado que a consciência é a experiência dos nervos que se conectam a um campo eletromagnético autogerado pelo cérebro e com o objectivo determinado de impulsionar o livre arbítrio e as acções voluntárias dos seres humanos". Quer saber, ipsis, o que se denomina campo eletromagnético do cérebro? Que surpresa, que pergunta inteligente, Deus seja louvado! Aí vai: no momento em que os neurónios do cérebro e o sistema nervoso se activam, enviam sinais elétricos convencionais através das fibras nervosas e emitem um pulso (isso, pulso, leu bem, pulso) de energia eletromagnética para o tecido circundante que fica ensolarado a modos que como uma nódoa de azeite. Adiante, e mais ainda: daquela forma, a dita energia carrega a mesma informação que as descargas nervosas, só que não como um fluxo de átomos dentro e fora dos nervos, mas sim mediante ondas de energia imaterial, ponto. Por hoje nada de mais perguntas, não seja calão, mande ás malvas esse seu ar gemebundo, sugiro-lhe que vá estudar o assunto, e amanhã passado pergunte-me de mansinho o que mais lhe aprouver sem frases fugidias, teremos uma belíssima conversa, aposto. Despeço-me, vou  agora ouvir uma obra musical executada em piano e violino no jeito sensual de um marulhar líquido. Registe: uma pergunta bem feita é mais que a metade da resposta.

Adenda 1
Pois sim, entendi! Li na sua mente que gostaria de conhecer alguns temas que provocassem (provocar é chamar a favor de) a filosofia (dura, nua e crua) para ruminar os tempos trágicos de pandemia em que os seres humanos vivem e sofrem e morrem (de forma gritantemente desigual). Também penso o mesmo, acompanho o seu desejo. Adiante. Vou elencar sete temas/problemas, acrescidos de uma pergunta (para fazer jus ao título da minha mensagem, digo, fazer jus ao título do meu - só para si, exclusivo - bom dia de hoje), espero que os temas e a pergunta sejam provocadores. Vamos lá. 
(1) O medo da doença Covid 19. De carreirinha, haverá que ter uma conversa com Thomas Hobbes que, enquanto fundador do pensamento político moderno, disse que o medo da morte é a paixão fundamental dos seres humanos. Eis então a necessidade de pensar, por um lado, a importância de um Estado politicamente organizado que garanta uma eficaz condução política da situação pandémica e, por outro lado, há que reflectir sobre o papel social do medo e sobre as paixões que o contrariam (o altruísmo e generosidade, por exemplo). 
(2) Como distribuir os cuidados de saúde numa situação de muita procura e de escassez de recursos. Essencialmente e com atenção redobrada, recorrer à literatura ética e às convicções sobre o valor absoluto (e/ou relativo) da vida humana. E ainda, neste âmbito, considerar a presente ausência indisfarçável de planeamento na gestão da pandemia no âmbito do serviço de saúde; a continuar assim, a ruptura mora ao virar da esquina e serão todos (ou muitas e muitos) a pagar a ineficiência e a teimosia sem tino de alguns iluminados.
(3) A origem deste novo coronavírus. Admitindo que o vírus terá sido transmitido por animais aos seres humanos, há que repensar o antropocentrismo e os seus corolários. 
(4) O uso da tecnologia para controle da epidemia e para vigilância das pessoas e monitorização dos indivíduos. Além de pensar a forma como se interpretam as liberdades individuais, não será dispiciendo, mais, será urgente pensar a possibilidade (e a sua importância) de serem desempenhadas tarefas à distância: em causa está uma alteração significativa da visão tradicional das relações interpessoais e dos laços de sociabilidade. 
(5) O abuso dos estados de excepção. Os estados de excepção não podem minar as Constituições. Nesta linha, estudar e confrontar os comportamentos dos Estados democráticos com comportamentos dos Estados autocráticos é um imperativo.
(6) Potenciar a percepção dos problemas económicos e sociais provocados pela pandemia. Necessário será (urgentemente) estudar a justiça social e redistributiva (questionando a a origem das desigualdades sociais) perante o desregulamento dos mercados de trabalho, bem como estudar e re pensar a justiça intergeracional: considere-se, a título de exemplo, que a situação dramática das pessoas que vivem (e morrem!) em lares tem ainda semelhanças (?!!!) com a forma assistencial de agir nos "hospitais/hospedarias" da Idade Média, e com os serviços do Estado a assobiar para o lado, que sina!.
(7) Acordar a consciência. Reflectir, na primeira pessoa, sobre as grandes interrogações existenciais dos seres humanos: a vida e a morte, o amor e o ódio, o destino individual e o destino colectivo.

Adenda 2
Que raio significa um tal (e desmesurado) leque de excepções? Será o SARS-COV- 2 um vírus altamente inteligente e assaz selectivo na escolha dos seres humanos a infectar? 
A talhe de foice: 
- bom seria que, com olhos de ver, se atentasse que o ordenamento territorial concelhio, em Portugal, está completamente desfasado da realidade temporal e social e económica e cultural; interessa a quem (e a que interesses) que assim se mantenha?
(Quem  sabe estejamos agora no tempo certo para pensar a excelência da democracia representativa a partir daqui... )

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