Há imagens cuja força e importância ainda valorizamos mui pouco

Imagen de Gerd Altmann en Pixabay
imagem de Gerd Altmann
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Graças à Covid-19, nos últimos meses, há milhares e milhares de pessoas que se encontram a passar a maior parte do seu tempo em sua casa (quem a tem, óbvio, há milhares de seres humanos que não têm casa e outros muitos até fome passam), milhares de pessoas que apenas podem sair de casa por períodos curtos de tempo e com objectivos específicos (saúde, alimentação e trabalho). Além disso, as fronteiras fechadas de um país (terrestres, aéreas e marítimas) confinam esse mesmo país ao seu território com os efeitos nefastos que tal acarreta.
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Quem, no entretanto, pensar que dentro de meses irá retomar as forma de vida de 2019 está redondamente enganado. A Covid-19 que (nos tempos que correm) continua a ceifar milhares de vidas no mundo, vai continuar activa (e escondida) até que (lá para meados/finais de 2021, oxalá!) uma vacina eficaz apareça no mercado e dela possam beneficiar todos os seres humanos. Assim será, tendo em conta os resultados apresentados pelos sistemas integrados de tratamento da informação que têm acompanhado a evolução da Covid-19 em todo o mundo.
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Seja: o actual confinamento, degavar, a par e passo, deverá ir acabando, exigindo-se o cuidado preventivo necessário (por exemplo: generalizando-se o uso de máscaras, luvas, gel, cujo custo deverá ser mínimo) a par do reforço e melhor gestão dos sistemas de saúde (com recurso às potencialidades da nanotecnologia aplicada à medicina) e da ciência e da cultura, não só para que o contágio seja minimizado (e ultrapassado) mas também para que a vida social e económica e política ganhe um impulso novo, objectivamente diferente está bem de ver: também e com destaque no sistema de educação, ensino e formação.
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Assim sendo: considere-se que há imagens cuja força e importância ainda valorizamos mui pouco. A imagem (acima) de Gerd Altmann é uma delas: traduz, de forma sucinta, uma medida social a que a Covid-19 vai obrigar nos próximos tempos, a necessidade de os seres humanos se organizarem (e cumprimentarem) - na vida em sociedade - a não menos de 2 metros de distância. Óbvio, se a distância na vida em sociedade deve ser de 2 metros, fácil é constatar tantas e quantas e muitas variadas actividades sociais e culturais (do desporto aos festivais, das celebrações religiosas às actividades culturais e de lazer) terão de ser anuladas ou ajustadas: quiçá o perfil humano do dito "homo sapiens sapiens" se altere.
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Na China, país onde a doença terá começado, parece ter tido início um mundo distópico. Acontece que o argumento que deu origem a esse mundo distópico é - nem mais e nem menos - que o mesmo argumento utilizado na célebre novela de George Orwell "1984": o "Grande Irmão" (em inglês coloquial "Irmão Mais Velho"), que agora na China já vive nos telemóveis dos cidadãos. Também tudo aponta para que esta (vigilância digital dos cidadãos) seja (e tenha sido) uma das formas de controlar a epidemia Covid-19 na China.
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O mesmo mundo distópico será algo difícil de aceitar no mundo ocidental, mas um outro mundo distópico onde o medo impera, já aí está: sim; sim, ainda que as medidas adequadas de protecção e a informação verdadeira e atempada devam ser um imperativo ético e legal e político. Acaso não será estranho que não se fale do que acontece na Grécia e nos seus campos de refugiados? Para mais bem entender o que, em tempo real, se passa na Europa e no Mundo, melhor mote não haverá para, com tempo, fazer uma aproximação ao "Estado de Excepção" de Giorgio Agamben.
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Pergunta que sobra: que efeitos benéficos e não benéficos poderão ter os novos comportamentos humanos que resultam do distanciamento social, do teletrabralho, da indústria robotizada, dos sistemas cibernéticos e outros, tendo presente dois dos maiores e complexos desafios que a Humanidade enfrenta: a emergência climática e o futuro da própria Humanidade?

Adenda 1
A propósito da força e importância de uma imagem, escreveu Hume na Investigação sobre o Entendimento Humano, cap. 12º: "... nada pode nunca se acessível à nossa mente a não ser uma imagem ou percepção, e os sentidos são apenas canais através dos quais estas imagens são transportadas, não sendo capazes de estabelecer qualquer relação directa entre a mente e o objecto. A mesa que vemos parece mais pequena quando nos afastamos dela, mas a mesa real, que existe independentemente de nós, não se modifica; consequentemente, a nossa inteligência não percebeu senão a imagem da mesa. "
Adenda 2
... com música em tempo de confinamento.

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