Quer, quer mesmo saber se eu conheci o Parménides? Então não!


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Sabe que, meu estonteado admirador de mim única, quando ontem vi a imagem de uns óculos a encimar o livro "Natural:Mente" do Vilém Flusser, céus, me ouvi a mim a exclamar (com voz assim a modos que um pouquinho para o roufenho, isso, para o fanhoso): também tenho uns óculos redondinhos que uso no trabalho, pode lá ser, tu queres ver que não há coincidências? Parênteses. Aí os tem na imagem que lhe envio, a imagem cola bem com o meu desenho que dá vida a esta sua página, pois não cola? É assim, que se há-de fazer! Fim de parênteses. Dizem-me, e eu acredito e gosto, dizem-me que os óculos me dão um ar de intelectual, penso que que esse ar é mais de sabedoria que de intelectual (ups!), mas enfim, adiante. Estou agora lembrar-me do tempo em que falei com o Parménides, já lá vão uns anos, mais ou menos dois mil e quinhentos, a propósito da Verdade e da Opinião. Respigo do poema dele a maneira como ele relatou o encontro comigo num bosque encantado onde verdelhões, láparos e perdizes se divertiam,  assim: "E a deusa recebeu-me com alegria/ segurou-me na mão e disse-me: é necessário que oiças tudo/ tanto a estranha e imóvel rotunda verdade/ quanto as opiniões dos mortais/ que não têm fundamento de verdade/ irás também aprender isto: que as aparências são necessárias apenas aparentemente/ e estão todas à nossa volta". Aquele Parménides! Deuses, como ele absorveu tudo o que eu lhe quis dizer quer quanto ao mundo da Verdade quer quanto ao mundo da Opinião. Olhe o que ele escreveu (no fragmento 3 do poema), isto: "...pensar e ser são o mesmo". Entendeu algo? Não entendeu! Apetece-me chamar-lhe Ambrósio, hi,hi,hi,Vamos lá, eu explico-lhe, devagar como convém: o pensar encontra-se numa relação necessária com o presente, com cada momento: o pensar é assim como uma espécie de dar conta de, o pensar é a consciência. Porquê? Homessa, então não se vê logo que ninguém se dá conta de algo no passado e nem no futuro (mitos e deuses e fadas e duendes também são entes), o que nos vem à consciência vem sempre no aqui e agora, seja, vem no momento em que pensamos, e se estivermos distraídos não damos conta de nada. Quer um exemplo? Aí o tem. Um dia destes, saí de casa silenciosa e distraída (a pensar em si com desejos a cintilar, reconheço), dei uns passos na rua com altivo snobismo de princesa e ocorreu-me este pensamento: será que me esqueci dos meus óculos azuis redondinhos? Parei apreensiva e não segura, até aquele momento os meus óculos azuis redondinhos - até aí esquecidos - tomaram conta da minha atenção, fui logo à cata deles na minha mala fabulástica. Entendeu agora? Ainda não! Céus, registe: os meus óculos redondinhos, numa linguagem parmenidiana, são entes, não são Ser: os entes fora da nossa consciência não são. Digo de outra forma, quando andamos distraídos, não nos damos conta da realidade: a realidade são os entes que vêm até nós através da nossa consciência em relação a eles. Sinto que está banzado até ao tutano com o meu saber, esta conversa já vai longa, mas ainda lhe digo que os meus óculos redondinhos foram o ponto de partida para o transportar a si (em pensamento) até mundo da Verdade (nous) e até ao mundo da Opinião (doxa), que Parménides tão bem explicita nos fragmentos que sobraram do poema original. Claro que sim, a sua perspicácia surpreende-me, é isso mesmo, claro que sim, os sentidos são o motor do mundo da aparência (o mundo da Opinião): tudo chega à nossa consciência (o mundo da Verdade, o mundo do Ser) através do sentidos que são mesmo o motor do mundo da aparência (o mundo da Opinião, o mundo dos entes, do parece Ser). Quer, quer mesmo saber se eu conheci o Parménides? Então não!
Adendinha
Se Parménides foi o primeiro cultor/iniciador da filosofia do Ocidente? Óbvio, na pergunta mora a resposta: foi o primeiro cultor/iniciador da  Ontologia e da Estética. 

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