A realidade é construída pela mente
Espero que esteja fascinadamente feliz (fascinadamente existe?!) porque eu existo e porque estou sempre presente na sua vida.- Ouvi dizer, com ouvidos de ouvir dizer, a minha fada preferida, à medida que ela, com uma colherzinha de prata fina, se deliciava com o creme “acanelado” de um pastel de nata. Deseja que eu esteja fascinadamente feliz porque está sempre presente na minha vida? Olha a novidade! Como se não soubesse que é o que acontece todos os dias – Reagi de forma displicente; seja mais precisa, por favor. Meu caro, disse martelando as palavras, espero que esteja feliz porque quero que seja original, ora essa! A originalidade é a origem da emoção; quero que, compulsivamente, transforme tudo em novidade. E tenho a certeza que isso só poderá acontecer, se eu que sou fada, estiver por perto; porque a realidade é construída pela mente. A realidade não anda por aí à espera de ser testemunhada, sabia? – Continuou enfadada, enquanto comia a massa do pastel de nata. Se a realidade é construída pela mente como diz, perguntei-lhe, tente explicar-me com palavras simples, porque é que dá tanto valor ao passado. Será que não percebe que o passado nunca é o passado? Será que não tem presente que, enquanto formos vivos, as nossas memórias perduram maravilhosamente voláteis e capazes de recomeçar de novo? Eu estava a ser ligeiramente irónica, ripostou, porque o que eu penso de si e de nós (gosto de o ver ruborizado quando o associo a mim, sabia?), é que tudo o que nos diz respeito, é mais misterioso e está enleado nas raízes do ser e do tempo. A minha vida (o que não acontece consigo) não tem linhas de azeviche a separar umas coisas das outras; a minha vida mantém-se fiel ao que ela representa de qualidade e inovação. Ao entrar na minha vida, meu caro, entra numa obra de arte; a minha vida é o meu auto-retrato. Estou siderado, desabei. Isso significa que a sua forma de estar na vida também existe, silenciosamente, atrás da cortina da minha consciência? As ideias sentimentais perduram? Claro que existo atrás da cortina da sua consciência; claro que as ideias sentimentais perduram mas podem deteriorar-se, respondeu. Nunca ouviu falar em priões? Os priões, numa proteína, são libertados de forma única; são capazes de ignorar tudo em função do futuro não pensado e não desejado. Os priões são por definição imprevisíveis e instáveis porque a memória só obedece a si mesma. E só sendo assim, é que o passado nunca é o passado. Porque é que terei que ser sempre eu a explicar as suas afirmações vagas e indefinidas? Que atado que me saiu! Se gosta de mim, diga que gosta e que não sabe viver sem mim; eu saberei imaginar tudo o que pretende e o que fazer. Que vida a minha! Coloque-me sempre em primeiro lugar na sua vida, não se amedronte e convide-me para tomar um café um dia destes. Preciso de o ver e de o olhar…Olhos nos olhos.
Fiquei fascinadamente (se fascinadamente não existe, passa a existir a partir de agora) feliz.
E apreensivo... Reconheço!
Comentários
Enviar um comentário