A sobredose de beleza está na origem da Síndrome de Stendhal?

Estava eu ainda a respirar um texto (experiência e pobreza) de Walter Benjamin, e já a voz ousada - de alguém (um exemplar ser humano raríssimo e inacessível) que bem conheço - me invectivava: e se deixarmos a reflexão sobre esse texto para um outro dia? Porquê? Respondi. Porque, retorquiu ela, me parece urgente que pense comigo na ideia de sobredose de beleza (demore-se na imagem que lhe envio: "O nascimento de Vénus" de Botticelli), acaso já ouviu falar em "síndrome de Stendhal"? Tenho uma ideia, vaga, apressei-me a dizer-lhe. Pois não chega, deve procurar saber mais, pesquise; ainda lhe garanto que, à medida que for abandonando o afélio na órbita da sua vida, vai sentir o seu coração a bater mais rápido, pode até sentir vertigens: apenas e só porque o seu coração sabe que, largando o seu ponto afélio, sempre vai em direcção a mim que sou o seu Sol nesta vida e, quando me encarar, será atacado por uma sobredose de beleza logo que ((tal qual acontece a alguns (e algumas), poucos, quando se pespegam em frente a uma obra de arte e são atacados por uma sobredose de beleza)). Se entendi bem, arrisquei, estou a traduzir a sua referência ao meu ponto afélio, diz-me que eu sou um planeta que gira à sua volta da mesma forma que o planeta Terra gira à volta do Sol? Nem mais, trauteou em soprano, mas também lhe garanto que se, agorinha com a sua emoção no auge, me visse, caía redondinho (que nem Saulo à entrada de Damasco) atacado por uma sobredose de beleza. Céus, estou linda que se farta: que quer, sou assim, que se há-de fazer! A sobredose de beleza está na origem da "Síndrome de Stendhal"? Questionei-me, enquanto sentia, perto de mim e sem alibis mentais, um sorriso tímido, embelezado e marulhante.

Adenda

Lembrei-me: hoje é dia do afélio, há uns anos foi dia do mastoideu.